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O afastamento e tudo o mais

por O Arrumadinho, em 16.05.13

Uma das maiores batalhas para os casais que entram num período de gravidez é o afastamento físico e emocional que podem enfrentar.

Estes meses trazem desafios complicados, fases emocionais, que mexem com hormonas, com feitios, com instintos, que geram conflitos, medos, discussões e o afastamento é quase sempre uma consequência de tudo isso. Só que o afastamento, mais do que uma consequência, é sobretudo uma fonte de outros problemas. E entra-se então num ciclo vicioso, em que os casais estão afastados por isto ou por aquilo, e não se aproximam porque o afastamento gera um afastamento ainda maior. E é daí que nascem, muitas vezes, crises que se podem tornar inultrapassáveis.

 

É um lugar comum dizer-se que estas coisas se resolvem com diálogo, com conversas, mas esta teoria é tão bonita quanto difícil de aplicar quando um casal não está a atravessar uma fase boa. Seguramente, ambos sabem que se deve falar sobre os problemas, as inseguranças, os dramas, as questões financeiras, o apoio, o futuro, os desafios, mas muitas vezes a vida empurra-nos para outras soluções, o dia-a-dia atribulado não nos deixa agir como manda o senso comum, porque chegamos a casa virados do avesso por isto ou por aquilo, e preferimos digerir qualquer coisa sozinhos a desabafar com a pessoa do lado, ou, pelo contrário, despejamos tudo em cima de quem está mais à mão, e que não tem culpa de nada, e isso vai trazer novos problemas.

 

Os casais deveriam perceber sempre que estas alturas são particularmente frágeis em termos emocionais. As mulheres estão muito mais sensíveis a tudo, muitas vezes mais irritáveis, ansiosas, nervosas, por todas as razões óbvias, quer físicas quer psicológicas. Mas muitas vezes se esquece o lado dos homens, que são quase sempre olhados como elementos acessórios neste processo, e que só servem para estar ali a dar apoio, aconteça o que acontecer. Mas os homens não são sacos de boxe nem máquinas, não são seres indiferentes a um ambiente em mutação, e também eles sofrem mudanças e têm de se adaptar a uma realidade nova, que não lhe pode ser totalmente hostil. O bem-estar do homem é quase sempre ignorado quando se fala num período de pré-natalidade. A única coisa que parece importar é o estado físico e emocional da mãe, do bebé, e o homem é esquecido. Para que um homem esteja bem, possa ajudar em tudo, esteja seguro, confiante e forte nesta altura é essencial, também, que seja valorizado, reconhecido, acariciado. A realidade da mãe muda muito, mas a do homem também. Podem dizer que não somos  nós que temos uma criança lá dentro, não somos nós que engordamos, que temos de tomar suplementos, que vamos parir uma criança, mas a maternidade não é só uma questão física, tem muito de psicológico e emocional. E o estado psicológico e emocional de um homem que se prepara para ser pai (de um homem responsável, pelo menos) também muda muito.

 

E tudo isto vai dar à questão do afastamento e do diálogo. Um casal que se fecha em si mesmo perante os problemas que enfrenta, que não os discute abertamente com o parceiro, que não os procura resolver atempadamente, é um casal que corre o risco de não ver lado a lado o crescimento de um filho.

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publicado às 11:58


19 comentários

De Margarida a 17.05.2013 às 12:02

Tudo isto é verdade... apenas achei interessante que falasse em "mãe" e "mulher"... mas apenas em "homem" e nunca em "pai" :)

De Isabel a 17.05.2013 às 12:21

Pelo que depreendo do texto é isso que está a acontecer-vos... é assim, um desabafo velado. Pode até negar, mas tenho cá pra mim que será... tem havido uma troca de "galhardetes", umas queixinhas de parte a parte... hummmm... vejam lá se arranjam tempo pra conversar, pra apaziguar inquietamentos, porque é tudo muito bonito, mas mais bonito que tudo, é sabermos que é com aquela pessoa que iremos conversar até ao fim da vida. E isso nos parecer a coisa melhor do mundo. Por isso, juízinho do bom!

De A Mocha a 18.05.2013 às 21:17

Pela minha experiência confesso que o "pior" na relação do casal não é a gravidez. Sim, durante esta as coisas mudam, há algum afastamento físico, há medos, há muitas emoções à mistura por parte dos dois. Mas penso que a altura mais complicada é depois do bébé nascer. A dinâmica do casal muda complemente e não é só nos primeiros meses... É para sempre (lol isto agora soou muito dramático). É um desafio voltar a ter momentos genuinamente românticos durante algum tempo quando tudo gira à volta de uma criatura que nos comanda a vida lol Mas a verdade é que com persistência, amor e humor tudo se consegue (a par com os familiares que podem ficar com os filhos uma vez por outra...) :)

De Gabriela Santos a 22.05.2013 às 09:20

Olá engraçado que a minha gravidez foi mito centrada em mim,mas a dada altura virei-me só para ele pois a mãe dele havia falecido .agora sim estamos um poucomais afastados mas também teem sido uns dois meses exaustivos.:)mas felizes!!!

De Elisete a 29.05.2013 às 09:54

Olá
sigo-vos atentamente e não pude deixar de partilhar este texto de Isabel Stilwell que saiu na revista Pais e Filhos. Tão certo e de tão de acordo com tudo o que já foi dito.

Ah e já agora fala a voz da experiência como mãe e avó... e porque não ler - segue em baixo o link
Muitas felicidades aso 3.

http://www.paisefilhos.pt/index.php/destaque/6240-o-casal-a-frente-dos-filhos

De rita a 13.06.2013 às 22:09

queridos pipoca e arrumadinho, parabéns tantos pelo pequeno Mateus.
eu tenho um Martim, com 3 meses.
estive a tentar ter um filho durante 8 anos, casada durante quase 13 anos, e um mês depois do Martim nascer separei-me do meu marido.
ele "deixou de gostar de mim".
somos o casal mais dialogante que possam imaginar, vivemos um ano numa ilha em moçambique, sem net ou electricidade, numa total aventura, conhecemo-nos um ao outro como ninguém.
eramos os melhores amigos, a metade um do outro, o divã e o terapeuta, ...
e aconteceu a coisa mais triste e dura que alguma vez eu podia imaginar.
com um filho de 1 mês fiquei sozinha em casa, hormonal, fragilizada, sensível, o que queiram...
estivemos 8 anos a tentar ter este filho.
esta minha história só serve para que também se pense que existem coisas que não se explicam e para as quais não há receita, experiência, diálogo ou explicação possível.
acontecem e pronto.
e quando essas coisas acontecem o que se faz? o que se pensa? como se faz?
estou a ter muita ajuda (terapia, amigos, Pais, etc) mas mesmo assim tenho a cabeça cheia de ???
como isto me aconteceu sem eu me ter apercebido?
obrigada pelo desabafo e que o Mateus venha cheio de saúde.

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