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A cesariana (caixa de Pandora #2)

por A Pipoca Mais Doce, em 07.08.13

Depois da amamentação Vs. biberão, o outro grande tema quente da maternidade é, sem dúvida, o parto natural Vs. cesariana. A esta hora, já as defensoras do parto natural estão a trepar paredes por eu considerar que se pode, sequer, pôr uma alternativa à saída do bebé pelo pipi, mas a verdade é que, goste-se ou não, essa alternativa existe. Logo num dos meus primeiros textos neste blog, escrevi que a decisão final sobre o tipo de parto caberia sempre ao Mateus, mas que lá beeeeem no fundinho eu desejava que tivesse de ser uma cesariana. Sou maricas, o que é que querem? Não seria eu a fazer essa escolha de forma voluntária, mas tinha essa preferência. Basicamente, deixei tudo nas mãos da criança. Se ela quisesse cesariana, seria cesariana, se ela quisesse parto natural, seria parto natural. Às 20 semanas o miúdo já estava sentadinho. Às 26 escrevi aqui que a médica disse que, tendo em conta a posição, era muito difícil que ele ainda desse a volta, e muita gente comentou a dizer que era uma precipitação, que ele ainda tinha imenso tempo e imenso espaço, que a médica não devia ter dito aquilo... Bem, a verdade é que o miúdo não deu mesmo a volta e nunca daria (tendo em conta algumas particularidades que se vieram a descobrir depois, aquando do parto).

 

Na última consulta, em Julho, lá se marcou a cesariana para as 39 semanas (seria a 15 de Agosto). Quando as águas rebentaram e fui para a maternidade, não havia qualquer dúvida que teria de ser uma cesariana. Só de olhar para o formato da minha barriga percebia-se logo (o miúdo estava todo encaixado à direita), mas uma ecografia de última hora confirmou a posição e lá fomos nós para o bloco. Sinceramente, acho que não fiquei muito nervosa, mesmo quando me disseram que o pai não podia assistir. É um bocadinho duro entrar naquela sala sozinha, à espera do que está para vir, sobretudo quando foi tudo tão precipitado e a correr, mas naquele momento eu estava mais preocupada com o facto de estar prestes a ter uma criança prematura e não saber em que estado estaria.

 

A epidural foi uma maravilha, zero dor, zero desconforto. É mais esquisito quando começamos a deixar de sentir o corpo. No meu caso, não cheguei a ter uma única contracção, mas para quem já entra ali a ganir de dores a epidural deve ser assim uma espécie de chegada ao paraíso. Depois... foi tudo muito rápido. Lembro-me que houve ali um momento, quando a coisa estava prestes a começar, que eu pensei "ok, não quero mais brincar a isto, vamos todos para casa, o puto fica onde está e não se fala mais no assunto, amigos como sempre". Não é muito fácil estar ali a pensar que estão prestes a cortar-nos a barriga e a tirar de lá um puto, mas ainda estava eu embrenhada nestes pensamentos maricas quando oiço a minha médica a perguntar "a pediatra está a postos para receber o Mateus?". Oiiiiiii? Como assim, receber o Mateus? Pois é, eu à espera que a cesariana começasse e afinal o miúdo já estava cá fora.  Foi mesmo muito rápido, não senti rigorosamente nada.

 

A parte mais chata foi depois, na hora de voltar a arrumar a casa, ou seja, meter tudo no sítio. Lembro-me de sentir que me estavam a remexer e começar a ficar muito zonza. Confesso, nessa altura achei que ia patinar, mas lá me enfiaram mais qualquer coisinha para o soro e aquilo passou. Tremia que nem varas verdes, um misto de nervos com o efeito da anestesia. Se o processo todo demorou meia hora foi muito. Quando me levaram para o recobro ia bastante bem dispostinha, fartei-me de tirar fotos ao miúdo, enviei mensagens, telefonei aos meus pais. Depois, aos poucos, o efeito da anestesia foi passando e comecei a sentir uma dorzinha na costura da cesariana. Pensei "pronto, é agora, vai começar a tortura". A verdade é que me contaram histórias tão negras das cesarianas e dos pós-parto das mesmas que eu estava à espera de um verdadeiro inferno. Inferno esse que nunca chegou.

 

Não sejamos inocentes, a coisa dói. Custa levantar, custa dobrar, custa rir, custa andar, mas talvez por ter as expectativas tão lá em baixo, nunca me chegou a doer tanto como eu estava à espera. A primeira vez que nos levantamos é má, é um facto. Apetece voltar para a cama e não sair de lá durante um ano. Mas depois, sinceramente, acho que é sempre a melhorar. Tive o bebe às dez e tal da noite e na manhã seguinte já estava a tomar banho sozinha, em pé, coisa que eu achei impossível. As enfermeiras insistiram sempre imenso para que me levantasse e andasse pelo quarto, e acho que isso ajuda bastante. Já tinha ouvido dizer que o segundo dia era pior do que o primeiro, porque já não havia restos de anestesia e aí é que doía a sério, mas não. Tudo tranquilo.

 

Quando vim para casa, ao fim de quatro dias, já me mexia bastante bem e fazia tudo com o puto. Entretanto, comecei a pensar que se aproximava a data de tirar os agrafos da costura e toda eu tremia perante essa ideia. Convenhamos, agrafos na barriga não é uma coisa fixe. Toda a gente me dizia que não doía nada, que nem ia sentir, mas eu estava com mais medo disso do que da própria da cesariana. No dia marcado fui para a médica com uma camada de nervos em cima, a antecipar toda a dor que ia sentir mas... nada. Houve um ou outro agrafo que fez uma ligeira impressãozita, mas os restantes nem senti. Agora, três semanas depois do parto, posso dizer que superei com sucesso a missão cesariana. Pontualmente, tenho uma dorzita ou outra na costura (que passo a vida a besuntar com um gel que a médica receitou), mas já saio de casa, já conduzi, faço a minha vidinha normal. Ok, tento não fazer esforços e ainda não posso fazer actividade física, mas de resto tudo ok.

 

Olhando para trás, para todo o processo, o que mais me custou foi picarem-me para pôr o soro (ODEIO) e foi a apalpação da barriga que me fizeram várias vezes depois do parto (uiiii, aí sim, ia trepando paredes). De resto, acho que superei com sucesso a experiência da cesariana. Se vier a ter mais filhos, é quase 100% seguro que voltará a ser uma cesariana, tendo em conta as tais particularidades que me descobriram nas entranhas. Criança minha dificilmente conseguirá ter espaço para dar a volta lá dentro, por isso não terá outro remédio que não vir ao mundo através de cesariana. Sinceramente, não é coisa que me chateie. Nunca tive o sonho do parto natural e, tendo em conta o meu nível de tolerância à dor (que é mais ou menos zero), até é melhor assim.

 

 

Estou com isto a fazer a defesa das cesarianas em vez dos partos naturais? Não, meus amigos, não estou. Não comecem já a vir para aqui dizer que eu estou a influenciar as pessoas (como fizeram quando eu contei a minha experiência sobre a amamentação), e que quero que todas as crianças do mundo nasçam através de cesarianas. Nada disso. Contei apenas o meu caso que, contrariamente ao que a maioria das pessoas relata, correu bastante bem. E acho importante contar episódios que não envolvem um mês de cama com dores do demónio. Cada qual sabe de si e da criança que traz na barriga. Eu e muitas outras pessoas tivemos de fazer uma cesariana por não haver outra maneira de arrancar o puto de lá de dentro, mas não me oponho nada a quem queira fazer uma cesariana só porque sim. Há quem ache isso esquisito e anti-natura. Eu também acho esquisito que haja quem queira fazer um parto natural sem epidural, mas lá está, são escolhas.

 

E, é óbvio, quem opta voluntariamente por uma cesariana sabe ao que vai, do mesmo modo que quem opta por um parto natural também sabe ao que vai. Sempre que uma mulher diz que vai fazer uma cesariana salta sempre alguém de um canto qualquer a dizer "mas tu sabes os riscos? Estás devidamente informada? Sabes que é uma operação?". Sim, sim, sim, qualquer pessoa minimamente consciente e informada sabe isso tudo, sabe que há riscos envolvidos, sabe que se trata de uma intervenção cirúrgica, sabe que há coisas que podem correr mal (mais não seja porque tem de assinar um termo de responsabiidade onde vem tudo descrito). Mas num parto normal também muita coisa pode correr mal, também não são tudo rosas. Há cesarianas que correm bem, outras nem por isso, há partos naturais que correm bem, outros nem por isso.  

 

Posto isto, e uma vez mais, que cada pessoa decida em consciência e tendo em conta o que considera melhor para o bebé e para si mesma. Tão simples quanto isso. =)

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publicado às 14:15


4 comentários

De Nadia Ferreira a 07.08.2013 às 15:50

Quando tive a minha filha estive 20h, VINTE HORAS em trabalho de parto após terem rebentado as aguas. Cheia de contraçoes, quase implorei para me levarem para cesariana. Claro, nessa altura já com epidural, mas mesmo assim custou-me imenso. Também achei a cesariana muito rápida mas dolorosa. No dia seguinte custou-me muuuito e só percebi o porque passadas umas horas..o Cateter da epidural tinha saído e eu estava com zero medicação!! Jurei a pés juntos que não queria mais filhos, que não me apanhavam noutra!! Claro que agora já não penso assim, já esqueci as "dores de parto". Mas se algum dia engravidar outra vez, cesariana please, assim já sei com o que conto!!!

De Anónimo a 07.08.2013 às 16:40

Olá Nádia. Após a ruptura prematura da bolsa de águas (nome que se dá quando se rebentam as águas), não se entra em trabalho de parto imediato, ou seja, o facto da bolsa de águas ter rompido, NADA tem a ver com o colo do útero, em termos de dilatação. Isto que significa que, possivelmente, não esteve tantas horas em trabalho de parto como diz. É um erro que a maior parte das mulheres comete, sem saber a asneira que está a dizer. O trabalho de parto divide-se em várias partes, sendo que, até aos 3 cm de dilatação do colo do útero é uma fase latente, portanto, muito lenta, e no primeiro filho então pode demorar dias! Só após esses 3 cm de dilatação é que a mulher entra na fase activa do trabalho de parto.

De Nadia Ferreira a 07.08.2013 às 17:42

Logo após rebentarem as aguas fui para o Hospital, quando cheguei la tinha 3 a 4 dedos de dilatação e contraçoes com intervalos regulares e pouco espaçados. Foi-me LOGO administrada a epidural. Sim, sei do que estou a falar porque, no pós parto, tive uma fantástica equipa medica que me explicou exactamente o que aconteceu e o porque da dilatação ter estagnado.
Estive 20h em trabalho de parto, mas nem que tivesses estado dias nunca teria tido parto normal porque o meu corpo não o permite.

De Anónimo a 08.08.2013 às 10:19

Já li em vários sítios que permitem até 24h que a bolsa esteja rota, mas no meu caso disseram-me no hospital 16 h no máximo, se não estou em erro. Não percebo como permitem que a mãe esteja 20h com a bolsa rota. Estive umas 12h com a bolsa rota e mesmo assim a minha bebé teve que fazer exames, felizmente não contraiu nenhuma infecção.

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