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O momento em que sabemos que vamos ser pais é sempre de uma emoção tal que as reacções se tornam imprevisíveis. Tenho amigos que quase desmaiaram com o pânico, outros que se enfrascaram em álcool de alegria e um dos que me são mais próximos chorou durante horas (de felicidade, diz ele). É impossível prever-se o que se vai sentir. Não sei se com as mulheres é igual, mas penso que sim. Só passando por isso se pode ter a certeza. E essa reacção nunca é igual, de filho para filho.
Das duas vezes que recebi essa notícia fiquei dominado por uma tensão inexplicável. Correram-me tantas coisas pela cabeça naqueles minutos que não tive tempo nem oportunidade de mostrar felicidade. Agora, um pouco à distância, acho mesmo que entrei em pânico.
Um filho é uma responsabilidade (no sentido amplo e bonito da palavra) demasiado grande para encarar o assunto com leviandade. Estamos a gerar uma vida de alguém que iremos amar para sempre, que nos acompanhará para sempre, que nos transformará por completo a vida e que dependerá de nós pelo menos durante 18 anos (ou 35, da forma como as coisas estão hoje).
É quase sempre socialmente mal aceite dizer-se que estes dias não são os melhores da nossa vida. Mas, para mim, não são. O dia em que soube que ia ser pai pela primeira vez não foi o melhor da minha vida. O dia em que o meu filho nasceu não foi o melhor da minha vida. O dia em que soube que ia ser pai pela segunda vez não foi o melhor da minha vida. O dia em que ele nascer não será o melhor da minha vida. E digo isto porque esses dias são marcados por emoções tão fortes que não nos dão espaço para nos sentirmos totalmente felizes, porque eu só entendo a felicidade espontânea, livre, sem tensões ou preocupações. E não consegui isto nesses tais dias. Estava demasiado tenso e preocupado para conseguir estar bem.
Senti-me muito mais feliz, dias depois de o meu filho nascer, quando o vi a dormir no berço, tranquilo, saudável, em casa, quando lhe peguei, o alimentei as primeiras vezes, quando lhe dei banho, quando me deitei na cama e o deixei adormecer no meu peito. Aí, nesses momentos, não houve pressões, tensões, preocupações, e sobrou-me o tal espaço para me sentir o homem mais feliz do mundo.
É isso que sinto, hoje, quando o vejo a ler uma página de um livro sozinho, a oferecer um brinquedo que já não usa a uma criança que nunca viu, a correr para mim quando o vou buscar à escola. O amor que sentimos, a inocência deles, a capacidade de apreensão das coisas, a formação do carácter, tudo isso realiza e preenche um pai.
A minha mulher costuma dizer que os pais se tornam piegas, que queimam um fusível, que perdem a racionalidade, o discernimento. Eu acho que não. Acho que os pais sabem, apenas, o que é ser pai.