Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



O dia 1

por O Arrumadinho, em 13.03.13

O momento em que sabemos que vamos ser pais é sempre de uma emoção tal que as reacções se tornam imprevisíveis. Tenho amigos que quase desmaiaram com o pânico, outros que se enfrascaram em álcool de alegria e um dos que me são mais próximos chorou durante horas (de felicidade, diz ele). É impossível prever-se o que se vai sentir. Não sei se com as mulheres é igual, mas penso que sim. Só passando por isso se pode ter a certeza. E essa reacção nunca é igual, de filho para filho.

 

Das duas vezes que recebi essa notícia fiquei dominado por uma tensão inexplicável. Correram-me tantas coisas pela cabeça naqueles minutos que não tive tempo nem oportunidade de mostrar felicidade. Agora, um pouco à distância, acho mesmo que entrei em pânico.


Um filho é uma responsabilidade (no sentido amplo e bonito da palavra) demasiado grande para encarar o assunto com leviandade. Estamos a gerar uma vida de alguém que iremos amar para sempre, que nos acompanhará para sempre, que nos transformará por completo a vida e que dependerá de nós pelo menos durante 18 anos (ou 35, da forma como as coisas estão hoje).


É quase sempre socialmente mal aceite dizer-se que estes dias não são os melhores da nossa vida. Mas, para mim, não são. O dia em que soube que ia ser pai pela primeira vez não foi o melhor da minha vida. O dia em que o meu filho nasceu não foi o melhor da minha vida. O dia em que soube que ia ser pai pela segunda vez não foi o melhor da minha vida. O dia em que ele nascer não será o melhor da minha vida. E digo isto porque esses dias são marcados por emoções tão fortes que não nos dão espaço para nos sentirmos totalmente felizes, porque eu só entendo a felicidade espontânea, livre, sem tensões ou preocupações. E não consegui isto nesses tais dias. Estava demasiado tenso e preocupado para conseguir estar bem.

 

Senti-me muito mais feliz, dias depois de o meu filho nascer, quando o vi a dormir no berço, tranquilo, saudável, em casa, quando lhe peguei, o alimentei as primeiras vezes, quando lhe dei banho, quando me deitei na cama e o deixei adormecer no meu peito. Aí, nesses momentos, não houve pressões, tensões, preocupações, e sobrou-me o tal espaço para me sentir o homem mais feliz do mundo.

 

É isso que sinto, hoje, quando o vejo a ler uma página de um livro sozinho, a oferecer um brinquedo que já não usa a uma criança que nunca viu, a correr para mim quando o vou buscar à escola. O amor que sentimos, a inocência deles, a capacidade de apreensão das coisas, a formação do carácter, tudo isso realiza e preenche um pai.

 

A minha mulher costuma dizer que os pais se tornam piegas, que queimam um fusível, que perdem a racionalidade, o discernimento. Eu acho que não. Acho que os pais sabem, apenas, o que é ser pai.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:24


32 comentários

De Juanna a 13.03.2013 às 17:58

Pois queimamos o fusível, sim! Resta saber se o fusível que tinhamos é que era o correcto. Cá para mim o queimado é que está bem :)

Comentar post






Digam-nos coisas

apipocamaisdois@gmail.com

Pesquisar

Pesquisar no Blog  


Arquivos

  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2014
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2013
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D