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Naqueles três primeiros meses em que não convém contar ao mundo que se está grávida, fui escrevendo uns textos sobre o tema, à espera do dia em que os poderia partilhar. Ora como esse dia chegou, aqui vai o primeiro deles, escrito a 16 de Janeiro:
Nunca fui uma pessoa de grande confiança no que toca a tomar a pílula. Em cada caixa de 21 comprimidinhos era perfeitamente normal que chegasse ao fim e me sobrassem três ou quatro . Ah, e tal, uma a mais, uma a menos, também não há-de ser nada. E também era muito normal ter várias caixas abertas e ir tomando de onde calhava. Tenho algumas amigas paranóicas que tomam a pílula SEMPRE à mesma hora, até põem alarme no telemóvel e tudo, não vá o diabo tecê-las. A minha regra sempre foi muito mais prática: tomo à hora que me deitar. Seja às oito da noite ou às seis da manhã, quercásaber. E, sinceramente, nunca me dei muito mal com esta regra. Até ao dia, claro. Em Agosto não tomei para aí umas sete pílulas, coisa pouca. O suficiente para o período se eclipsar. Ora ele, que sempre foi um bom rapaz, que sempre apareceu a horas, que nunca me pregou nenhum susto, um período que uma pessoa podia dizer "olha, sim senhor, é de confiança"... de repente, desapareceu. Foi-se. Sumiu-se. Passou uma semana, e depois duas, e depois três, e nada. Dois ou três testes de gravidez negativos, exames no hospital (tudo normal) e a conclusão que tinha sido um qualquer descontrolo hormonal. Brincar com a pílula dá nisto.
Vai daí fui à minha médica e disse-lhe que, já que tinha interrompido a pílula até se resolver o mistério do período desaparecido, se calhar não voltava mesmo a tomar. Não que estivesse a pensar engravidar nos tempos mais próximos, mas também já estava a caminhar para os 32 e se calhar era altura de me ir começando a preparar para a coisa. Mais não fosse mentalmente. Tudo muito certinho. Assim foi. Pílula arrumada a um canto e nem nunca mais pensei no assunto. Não andei a controlar dias, nem horas, nem períodos férteis, nem nada dessas coisas. Achava, mesmo, que ia demorar para aí dez anos a engravidar, por isso estava na paz do Senhor.
No primeiro mês tudo bem, o período apareceu certinho e direitinho, mas no segundo voltou a desaparecer. Não estranhei. Antes de começar a tomar a pílula, para aí há 50 anos, o meu período sempre teve vida própria. Aparecia quando queria, à hora que queria, era uma loucura. Por isso, tendo deixado a pílula, achei que estava a voltar às origens. Mas depois começaram os sintomas. Primeiro era o sono. Um sono do tamanho do mundo. Desvalorizei. Achei que depois de três semanas em Nova Iorque ia levar algum tempo a coordenar os sonos novamente, por isso não liguei muito. Depois foram as dores no peito e a sensação de estar sempre apertada e prestes a explodir. Hipocondríaca como sou, comecei logo a imaginar todo um conjunto de patologias que, seguramente, me tinham atacado.
Até que, na véspera de Natal, decidi comprar um teste de gravidez. Só assim naquela. Não achava nada que estivesse grávida, mas convinha começar a despistar hipóteses. Fiz o teste e... nada. Não apareceu nada. Nenhum sinal. Pensei que devia ter feito alguma coisa errada, ou que o teste não estava em condições, por isso deitei-o fora e não pensei mais no caso. Mas para aí duas horas depois decidi ir repescá-lo. Nem sempre o resultado aparece logo, por isso lá fui eu em busca do teste perdido. E lá estavam eles, dois tracinhos vermelhos. Não havia margem para dúvidas, eles estavam lá. Mas nem assim fiquei convencida. Como o teste andou duas horas às voltas no caixote do lixo, achei que era provável que se tivesse avariado lá pelo meio e que aquele resultado não fosse muito fidedigno. Por isso fui comprar outro. Um Clearblue, um daqueles testes mais moderninhos, que dão logo o tempo estimado de gravidez. Fiz o teste e passados uns três minutos lá apareceu o resultado no visor: "grávida 3+". Ou seja, grávida de mais de três semanas. Upssssssss!