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Não é nada que eu não soubesse, mas desde que criámos este blog que pude comprovar a minha teoria de há muito: não há ninguém mais fundamentalista do que os pais. Reformulo.. não são os pais, são as mães. As mães defendem posições do mais extremista que há, e ai de quem as tente convencer do contrário. Elas é que sabem. Se com elas foi assim, então tem de ser assim com todas as mães e futuras mães do mundo. E é raro conseguirem pôr-se do outro lado e tentar perceber porque é que há quem pense de outra forma. Notei isto em relação ao tema parto normal Vs. cesariana mas, basicamente, sinto isto em relação a tudo:
- O meu M. mamou até ao ano e meio e NUNCA esteve doente, por isso é óbvio que mamar é muito melhor do que o biberão! Nem sei como é que há mães que não querem dar de mamar, é a coisa mais maravilhosa da nossa existência!
- Cesariana? Como é que alguém pode preferir uma cesariana??? Só pode ser uma ignorante que não se informou devidamente dos riscos!
- O carrinho de passeio XPTO?? Que estupidez! Eu, a minha irmã e a minha prima de Trás-os-Montes comprámos o carrinho XYOZ e esse sim, toda a gente sabe que é o melhor!
- Curso de preparação para o parto?? Mas isso serve para alguma coisa? Eu não precisei de curso nenhum para saber tratar da minha C. e do meu F!
- A sério que a médica acha que às 27 semanas o bebé já não muda de posição? Despede-a, que incompetente! A minha médica, que por acaso está no top 5 de obstetras portugueses e, quiçá, europeus, sempre me disse que rebéubéu pardais ao ninho!
Credoooooo! Este espaço, como tantos outros ligados à maternidade que vou frequentando de quando em vez, é só um espaço de partilha de opiniões. Partilha, não imposição de opiniões. Por isso acho sempre estranho quando a malta se pega na caixa de comentários, cada qual a contra-atacar com uma teoria mais elaborada do que a anterior. Nota-se muita falta de abertura e de respeito para com opiniões contrárias. Ainda ontem fui parar ao Facebook de uma pessoa que eu não conhecia e que escreveu qualquer coisa como "fico admirada com a quantidade de pessoas que vai para o blog da Pipoca defender as cesarianas". E, claro, seguia-se um rol de comentários basicamente a dizer que toda a gente que era pró-cesarianas só podia ser irresponsável, desinformada, ignorante, desconhecedora de todos os riscos, e como é que era possível, e como é que alguém podia preferir uma cesariana a um parto natural, e que de certeza que nunca tinham visto vídeos de cesarianas que correram mal, e mimimimi. Eu juro que fico pasma com estas coisas. Sobretudo, por se tratarem de mulheres! Não era suposto sermos um bocadinho mais solidárias umas com as outras nestes assuntos?
Tal como eu escrevi uma vez neste blog, se me perguntassem que tipo de parto queria ter, acho que optaria pelo natural (ou normal, como lhe quiserem chamar), mas também disse que, lá no íntimo, não me importava nadinha se houvesse uma recomendação médica para optar pela cesariana. A verdade é que não faço questão que seja assim ou assado. Quero o que for melhor para a criança, e tenho a certeza que estou nas mãos de uma médica que quer o mesmo e que me recomendará sempre o que achar mais adequado. Se for parto normal porreiro, vamos a isso, se for cesariana porreiro também, vamos a isso. Já disse que sou uma maricas de primeira e a ideia de cesariana atenua bastante alguns dos meus receios, mas se não for realmente necessário, o mais provável é que siga para um parto normal. Mas se, até lá e com o avançar da gravidez, mudar de ideias, se a ideia do parto normal e todos os medos a ele associados forem crescendo, então optarei, CONSCIENTE e ALEGREMENTE, por uma cesariana. E, claro, nessa altura dispensarei que me venham dizer que há muitos riscos, e que há vídeos horríveis na net, e que já morreram não sei quantas mulheres e não sei quantas crianças durante as cesarianas, e que a recuperação no pós-parto é o equivalente a uma descida ao Inferno, e toda uma listagem de horrores associados ao processo.
O facto de eu não ter nada contra uma cesariana (e de até simpatizar bastante com a ideia), não quer dizer que me sinta no direito de ser hostil ou desagradável com alguém que queira algo diferente. De certeza que há mães que querem parir debaixo de água, ou na serra de Sintra numa noite de lua cheia, ou em casa da avó. De certeza que há quem não queira drogas nem assistência médica. Basicamente, estou-me nas tintas para isso. Cada uma saberá de si, daquilo que lhe faz mais sentido, daquilo com que se sente mais confortável. Dúvidas houvesse sobre a utilidade do curso de preparação para o parto, e aqui está uma das muitas vantagens: lidar com várias grávidas, com várias ideias, perceber que apesar de termos todas em mente o mesmo fim (dar à luz), todas queremos meios diferentes para o atingir. E isso é muito interessante, apresenta-nos várias perspectivas sobre o mesmo assunto e, sem dúvida, torna-nos muito mais tolerantes. De facto, era lindo se eu fosse ter com uma colega que, por exemplo, desejasse parir em casa e lhe dissesse "mas tu és estúpida ou quê? Nunca viste vídeos de partos em casa? Tens noção dos riscos, sua ignorante?".
Nisto da maternidade, como em quase tudo na vida, não há verdades absolutas. O que resulta para uma mãe não resulta para outra. O que resulta para um bebé não resulta para outro. Não faltam exemplos disso nos comentários que me vão deixando. Há quem tenha tido cesarianas espectaculares, há quem tenha tido partos naturais horríveis e jamais queira repetir a experiência, e vice-versa. Ignorância é achar que a nossa opinião é mais válida do que a da vizinha. Quando, bem vistas as coisas, se trata do corpo da vizinha e do bebé da vizinha. A nossa experiência pode sempre ser partilhada (e, obviamente, agradeço muito que o façam), mas não vale a pena tratar as outras, as que têm opiniões e vontades distintas, como se fossem umas ignorantes desinformadas. Há muitas opções válidas e disponíveis, felizmente. Cabe a cada mulher optar pela que acha melhor para si. E cabe às outras não procederem a uma sessão de apedrejamento, como se tivessem a razão absoluta do seu lado. Opinem, opinem muito, que eu sempre defendi que é da partilha de opiniões que nascem belas ideias. Mas não vale a pena passarem atestados de burrice a quem opina de maneira diferente porque, já se sabe, isso nunca resulta e só leva a que a malta se perca em discussões infrutíferas.