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A lista #1

por A Pipoca Mais Doce, em 10.07.13

Sempre que uma pessoa que ainda não tem filhos ousa dar uma opinião sobre o tema crianças, é SEMPRE brindada com o tradicional "quando fores mãe logo falamos". Há outras variações. Também pode ser "quando tiveres filhos logo vês" ou "eu também cuspi muito para o ar e depois caiu-me em cima" ou "tens filhos? Não? Então não sabes o que estás a dizer". É o normal. Porque, claro, só podemos falar de criancinhas se as tivermos, caso contrário é-nos imediatamente passado um atestado de burrice e incompetência. O que é que nós percebemos do assunto, se ainda não temos pequenos seres lá por casa? É claro que eu discordo disto. Do mesmo modo que posso falar de futebol sem ser jogadora ou treinadora, do mesmo modo que posso falar de política sem ser ministra, do mesmo modo que posso falar de moda sem ser modelo ou estilista, acho que também posso emitir uma opinião sobre criançada sem que ainda seja mãe. Mas, confesso, estou mortinha para que o Mateus nasça só para depois já me sentir com legitimidade para dizer TUDO o que me apetece sem que me atirem um "QUANDO FORES MÃE LOGO VÊS". Quero ver qual vai ser o argumento depois. Aposto que, nessa altura, me vão dizer que só ao terceiro filho é que se pode falar com propriedade.  Blá-blá-blá Whiskas saquetas.

 

Enfim. Eu acredito que há muita coisa que uma pessoa diz e pensa e projecta e que depois, tendo efectivamente uma criança nos braços, faça tudo ao contrário. Daquela maneira que disse que NUNCA iria fazer. Parece-me normal. É um novo mundo, estamos a lidar com uma data de situações pela primeira vez, por isso percebo que acabe por haver cedências. Acredito também que os nossos neurónios ficam de tal modo queimados que já nem nos consigamos lembrar do que é que comemos ao almoço. quanto mais daquilo que, um dia, achámos que nunca íriamos fazer com os nossos filhos. Eu tenho muito medo disto, dos tais fusíveis que se queimam e que, subitamente, nos transformam noutra coisa qualquer. É impossível alguém prever que tipo de pessoa passará a ser depois de ter um filho, por isso sempre disse que, quando engravidasse, iria fazer uma lista de TUDO o que não quero ser enquanto mãe. Só para depois ir confirmando se estou a cumprir ou se já me desgracei completamente, comprometendo tudo aquilo em que acreditava. Basicamente, quero perceber se me irei transformar numa mãe-banana.

 

Assim sendo, e tendo em conta a proximidade do parto, acho que vai sendo hora de dar início à minha lista. É grande, é um work in progress, por isso irá dividida em vários posts. Ora então vamos a isto:

 

1- Perceberás que o nascimento do teu filho é o acontecimento mais importante da tua vida mas que, para o resto dos mortais, é só mais um puto que veio ao mundo. Posto isto, não ficarás triste se o resto do mundo não mostrar um entusiasmo palpitante e desmedido pela tua criança. Para eles, é só mais um. Conforma-te.

 

2- Uma coisa é enviares uma ou duas fotos do puto quando ele nasce. Outra, é entupires o mail de familiares e amigos com fotos diárias da criança, legendadas ao melhor estilo "Mateus a dormir", "Mateus acordado", "Mateus a rir", "Mateus a chorar". As pessoas não conseguirão perceber as diferentes expressões do miúdo e vão achar as fotos todas iguais, por isso esquece.

 

3- Quando recuperares a vida social, tenta não dominar o jantar com conversas sobre o cocó do Mateus. Aliás, se puderes evita trazer o assunto "filho" à baila a cada cinco segundos (lembra-te... é só mais um bebé para o mundo e o simples facto de ser teu não o torna mais especial para os outros. Incompreensivelmente!).

 

4- Não tratarás o puto por "a minha cria" nem utilizarás expressões como "lamber a criar" ou "cheirar a cria". Já a palavra "criatura" poderá ser usada com a frequência que quiseres.

 

5- Não acharás que és a única pessoa no mundo com capacidade para pegar no teu bebé, mudar-lhe a fralda ou pô-lo a dormir. Posto isto, tentarás não rosnar sempre que alguém lhe quiser pegar ao colo (o que não quer dizer que não possas lançar uns olhares loucos e assassinos ao melhor estilo "devolve-me já o puto antes que o demónio baixe sobre mim e aí é que vais ver o que é uma mãe em fúria")

 

6- Há cuidados de higiene mínimos, mas não obrigarás as visitas a andarem descalças em tua casa, nem a desinfectarem-se integralmente em lixívia antes de tocarem no miúdo. Menos!

 

7- NUNCA, em tempo algum, guardarás cocós da criança para que o pedriatra os possa analisar mais tarde. Tem juízo nessa cabeça.

 

8- Não esperarás até o puto ter 25 anos para recomeçares a ter vida própria. Para bem da tua sanidade mental, terás de te esforçar para recuperar as idas ao ginásio, os jantares com amigos ou os fins-de-semana com o marido. E quando alguém te vier dizer que és má mãe por ires ao cinema e deixares o puto com a sogra... manda-os cagar, que a vida é tua, o filho é teu e só tu sabes o quanto estavas a precisar de ir espairecer. O mesmo se aplica a férias sem o miúdo: se puderes, vaaaaaaaaaaaaai!

 

9- Quando o deixares com alguém, procura não estar a ligar a cada sete minutos para saber se ele ainda está vivo. É passar um atestado de incompetência a quem ficar com ele. Embebeda-te e relaxa.

 

10- Não dirás coisas como "o meu filho está muito desenvolvido para a idade" ou "tem 5 meses mas já veste roupa de 8". Uau. Também não te vangloriarás por o miúdo ter dois anos e bater palmas e dançar quando ouve uma música. Não é sobredotado, TODOS os miúdos fazem o mesmo. Procurarás ter isenção suficiente para, se for o caso, reconheceres que ele não é lá muito esperto.

 

(continua)

 

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publicado às 10:46


49 comentários

De Marta Silva a 10.07.2013 às 12:06

O que já me ri com este post, pois eu também pensava assim, até ter a minha Francisca! Claro que vai haver sempre coisas que vais contar toda contente e não vais ter as respostas que querias e sim vais ficar triste, especialmente quando ouvires respostas desagradáveis a dar a intender que estás alucinar que o Mateus afinal não faz isso, que é coisa natural e não fruto da tua brincadeira com ele.
Saídas com os amigos? Sim e muitas, mas sendo nós o primeiro casal com filhos, é inevitável não falar da Francisca, até porque está connosco nesses mesmos jantares e porque cada desenvolvimento dela para nós é uma grande vitória e claro partilhamos com os nossos amigos todas essas façanhas dela. Tem dias que me vejo sem outros assuntos pois ela praticamente é o meu mundo, nada mais é importante que ela, dou comigo a pensar nela, se já comeu, (pois está com a sogra enquanto estou a trabalhar), se já dormiu a cesta, se papou a papa toda, e sim se já fez coco, nunca me vi tão feliz por ver a minha filha a fazer coco super mal cheiroso. Especialmente agora que ela começa a desenvolver e a responder aos nossos estímulos, mais depressa nos vemos a fazer as tais figurinhas tristes hihihi e depois filmar e claro a mostrar aos amigos. É normal Pipoca!! ;) Claro, temos de saber quando parar. E em parte dou razão às pessoas que dizem que "quando fores mãe vais perceber", pois de facto, há muita coisa que não é bem como pensamos, um filho nos braços e sendo nosso, há muita coisa que não conseguimos fazer ou mudamos mesmo a nossa forma de pensar. Mas prepara-te pois mesmo que faças as coisas com muito carinho, vais ouvir sempre críticas, eu tive de aprender a lidar com elas, lidar como quem diz, entram a mil e saem a dez mil, mas principalmente a não ficar triste, se bem que há dias que só apetece espancar alguém. Vais ter pessoas a tentar impor a forma de fazer determinadas coisas, que só determinados produtos é que são bons, que não deves fazer isto e aquilo, que a x meses já o deves passar pro quartinho dele, pois ele ir até vai, o problema é nós ficarmos noutro quarto e tentar dormir com tanto medo que ele se engasgue durante a noite e nós ali a dormir feitos calhaus ao lado. É uma coisa que temos de fazer por nós e pensar por nós, pois cada um tem uma personalidade diferente e é que sabe o que é melhor ou a melhor forma de fazer!! E lembra-te mais ninguém vai conhecer melhor o Mateus do que tu, o melhor conselho que me deram foi mesmo seguir sempre mas sempre o nosso instinto maternal, por mais cliché que pareça é a melhor arma que temos para proteger os nossos filhos.

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