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11-Procurarás lembrar-te do quanto gostavas de ir a um restaurante jantar sossegada e de como eram os olhares assassinos que lançavas a crianças birrentas e guinchonas. Se, por acaso, te calhar na rifa um pequeno selvagem sem modos, fica em casa e acabou-se, até aprender a ser civilizado. E se o levares, ele deitar a barraca abaixo e alguém lhe lançar os tais olhares assassinos... lembra-te, também já estiveste daquele lado. Nada de rosnar.
12- Não obrigarás as pessoas a fazerem cálculos mentais de cada vez que te perguntarem que idade tem o puto. Uma coisa é dizeres que tem seis meses, outra é dizeres que tem 32. Também não te referirás à criança como "o bebé" tendo ele já cinco anos. Ou quatro. Ou três. E mesmo com dois, hmmm...
13- Tentarás não entrar em conversas competitivas, do género "a sério que o teu Luisinho ainda não tem dentes? Ai, o Mateus, com sete meses e meio já tinha a dentição completa e já comia entrecosto. Mas pronto, ele sempre foi muito desenvolvido para a idade".
14- Não usarás a expressão "o MEU Mateus". "Ai, o meu Mateus isto, o meu Mateus aquilo". Nem "o meu menino". Também não andarás em fóruns da internet referindo-te a ele como "o meu M.". Custa assim tanto escrever o nome completo do miúdo?
15- Tentarás, até ao limite das tuas forças, adiar ao máximo o uso de iPhones e iPads. Sim, dão muito jeito para os calar, sobretudo à mesa, mas no nosso tempo não havia nada disto e nós também nos calávamos. Saberás que, muito possivelmente, darás por ti a aderir à máxima do "se não podes vencê-los junta-te a eles". E isso é triste, mas diz que é "a evolução dos tempos".
16- Não comprarás um presente à criança sempre que for à festa de anos de um amiguinho porque "coitadinho, é para não ficar triste e ressentido". A vida é mesmo assim: cada pessoa só faz anos uma vez por ano e a vez dele também há-de chegar. Até lá, tem que aguentar.
17- Do mesmo modo, também tentarás que o puto não receba 48 presentes a cada Natal, só porque "aaaaaaaai, ele fica tão feliz a rasgar os embrulhos".
18- Não desenvolverás todo um conjunto de teorias sociológicas sobre o uso das palmadas na educação infantil e como isso pode traumatizar as criancinhas para a eternidade. Também apanhaste umas quantas quando eras miúda e isso não fez de ti uma rebelde que tentou fugir de casa ou que tentou matar os pais aos 17 anos. E se alguém ousar dizer-te "as crianças não se educam com palmadas", põe as mãos nos ouvidos e começa a gritar "lá-lá-lá, não estou a ouvir nada, lá-lá-lá".
19- Explicarás ao miúdo que à noite contam-se histórias, não se vêem filmes. E se algum dia ele chegar perto de ti e te disser "não gosto de ler", contarás até 359 antes de começares a preencher os papéis para a adopção.
20- Não lhe darás qualquer espécie de liberdade clubística. Ou é do Benfica, ou é do Benfica. Não vai ser fácil, vai sofrer muito ao longo da vida e apanhar desgostos frequentes, mas isso ajuda a formar o carácter.
(continua)