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Amamentação ou "vamos lá abrir a caixa de Pandora"

por A Pipoca Mais Doce, em 26.07.13

À medida que a minha gravidez ia avançando ia aumentando a minha certeza de não querer amamentar. Quanto mais pensava no assunto, quanto mais lia sobre o assunto, quanto mais reportagens/documentários via sobre o assunto, mais achava que aquilo não era para mim.  Essencialmente, preocupava-me a questão da dependência total e o facto de poder ser um processo extremamente difícil, doloroso e até traumático, para mim e para o bebé (a questão de estragar ou não o peito nunca pesou na minha decisão, estou-me nas tintas). Sim, claro que também li bastante sobre todas as vantagens da amamentação e tenho consciência das mesmas. Como não, se 99,7% da literatura disponível é pró-amamentação? Mas eu lia e via as imagens e não sentia aquele chamamento maternal, não achava que fosse assim muito enternecedor. Pelo contrário, fui criando cada vez mais resistência à ideia, estava sempre a juntar mais um ou outro argumento que sustentava a minha vontade de não amamentar. Sinceramente, nunca achei que fosse ter um filho menos esperto, mais doente ou que gostasse menos de mim por não lhe dar de mamar (geralmente, são estes os argumentos fortes que utilizam para nos convencer). E, felizmente, fui sendo sempre acompanhada (pessoal e profissionalmente) por pessoas de espírito aberto  e que nunca me gritaram coisas do género “VOCÊ SABE O QUE ESTÁ A FAZER AO SEU FILHO, SUA ASSASSINA?????”. Não que eu fosse tomar qualquer decisão com base no que os outros pensam, mas ajuda sempre ter gente à nossa volta que não faz qualquer tipo de julgamento e que nos incentiva a fazer aquilo que acreditamos ser o melhor para nós. Irrita-me  muito essa coisa dos palpites, das opiniões fundamentalistas (e quase nunca fundamentadas), do “EU é que sei o que é que TU deves fazer”. Nunca me na vida me ouvirão a dizer a uma grávida/mãe para dar biberão em vez de mama, por isso porque é que alguém (a quem não foi pedida opinião alguma) se sente no direito de dizer o contrário? Enfim. 

 

Acredito que, aos poucos (muiiiiiito aos poucos), começará a existir maior tolerância em relação a este tema, mas várias pessoas me aconselharam a não dizer que não ia dar de mamar por opção. Diziam-me que inventasse uma desculpa qualquer (do género, o leite não subiu), o que sempre me pareceu parvo. A ideia é quebrar barreiras e preconceitos, ajudar as mulheres nas suas escolhas, e esconder a verdade não me parece a melhor forma de o fazer. É por causa disto, por uma mulher não assumir abertamente que não dá de mamar porque não quer, que depois há quem se sinta no direito de fazer julgamentos e dizer parvoíces. 

 

 

Mas pronto, adiante. Eu dizia que não ia dar de mamar, mas uma coisa é aquilo que se diz e aquilo que se projecta. Outra é estarmos perante as situações. E foi isso que me aconteceu assim que soube que o Mateus ia nascer naquele dia, com 34 semanas e alguns dias. Nem pensei. O simples facto de o saber prematuro fez com que, em segundos, tenha decidido que ia dar de mamar. Achei que necessitaria de mais defesas do que as normais, e se dizem que amamentar lhe poderia dar essas defesas, então vamos embora, é que nem se fala mais nisso. Todos os meus receios caíram por terra logo ali. Se era o melhor para ele, então isso é que era importante. E assim foi. Muito pouco tempo depois de ter nascido, o Mateus já estava a mamar. Com esforço, a cansar-se muito, sempre a adormecer, com os reflexos de sucção muito imaturos e a precisar de tomar suplemento logo a seguir. Teria de ser sempre assim, alimentado a mama e a biberão por ser prematuro e precisar de comer o suficiente. Da minha parte, gostei bastante da experiência, de o ter ali pertinho. Não doeu nada, não achei incómodo, não me fez confusão nenhuma. Gostei mesmo de ter estabelecido aquele primeiro contacto com ele. Mas depois foi ficando mais complicado. Apesar de o colostro até sair com alguma facilidade, o miúdo levava uma vida para conseguir mamar. Era um bocadinho desesperante para ele, o que me deixava preocupada, porque se perdesse peso não o deixavam sair. E se havia enfermeiras ultra pacientes e que não desistiam enquanto ele não mamasse, outras havia (só uma, na verdade) que não tinham a mínima pachorra para estar ali a estimulá-lo e iam logo buscar o suplemento. E, claro, era uma alegria vê-lo a despachar o biberão em poucos minutos, todo contente da vida, e saber que ficava bem e satisfeito.

 

Foi assim que, ao terceiro dia, decidi deixá-lo exclusivamente a biberão. Começava a aproximar-se a vinda para casa e eu tinha medo que, sem apoio, a amamentação se tornasse muito desesperante. Tinha medo que ele passasse fome, que ficasse ainda mais frágil, que tivesse de voltar para o hospital, e essa ideia estava a consumir-me. Por isso, e depois de me ter informado com algumas pessoas (no hospital também foram super acessíveis), decidi interromper a produção de leite. Já lhe tinha dado de mamar naqueles primeiros dias, os mais fulcrais, e isso tranquilizou-me um bocadinho. Mas quando me trouxeram o comprimido para parar o leite, não o tomei de ânimo leve. Fiquei ali um bom bocado a ganhar coragem, porque é sempre aquela dúvida do “será que estou mesmo a fazer o mais correcto para ele?”. Agora já não penso nisso. Sinto-me bem, e acho que para o Mateus isso também é importante. Mãe feliz, bebé feliz. Se eu andasse ali desesperada e consumida por não lhe conseguir dar de mamar tenho a certeza que isso teria efeitos bem mais negativos nele. Agora vejo-o todo contente a despachar o seu biberão a cada três horas e sinto-me bastante tranquila com a decisão. Mas até acredito que numa futura gravidez, se correr tudo bem e tiver um bebé de termo, considerarei a amamentação exclusiva e a longo prazo. Quem sabe? De facto, as coisas mudam.

 

A parte mais chata do processo foi ter de passar pela subida do leite, mesmo tendo tomado a medicação. De repente (mas assim de um momento para o outro, super rápido), o meu peito triplicou (mal conseguia fechar os braços), ficou a ferver, duríssimo e só de ter a camisa de dormir em cima já fazia doer. Foi uma noite tramada. Ajudaram-me muito os conselhos da enfermeira Luísa, do Espaço Cegonha, que teve uma paciência de santa para estar ali a trocar mensagens comigo durante a noite. E as aplicações de gelo sabiam-me a pato, um verdadeiro alívio. No dia seguinte o peito já estava muito melhor e as dores passaram. Ufaaaaa!

 

Moral da história: não vale a pena fazer grandes planos nem achar que as nossas decisões são irrevogáveis como as do Paulo Portas, porque percebi que há coisas que só se decidem na hora, quando confrontados com os factos. Acho, sim, que temos de ser mais tolerantes com as escolhas alheias porque, lá está, são alheias e não há verdades universais. Mamar, biberão, whatever. Eu quero é um bebé feliz e saudável e acredito que é nisso que cada mãe tem de se focar.

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publicado às 11:38


301 comentários

De Isis a 03.08.2013 às 11:17

Não entendo. Para mim gravidez, parto, amamentação foi tudo natural. A Natureza é sábia. Surgiam "situações" pontuais que foram geridas na altura, tais como, a subida de leite repentina que me provocou febre e dores horríveis. Quando o meu filho tinha um mês descobri que o meu marido tinha uma "amiga" e o único pensamento foi "nada de stress para o leite não secar". Amamentei até aos 8 meses. Não entendo o "planeamento" de todos os pormenores. Faz lembrar um programa de computador

De Maria a 03.08.2013 às 18:23

Foi sem duvida o post mais doce que li no blog da Pipoca. Nao sou mae logo a minha opiniao é muito mais imparcial. Mas comoveu-me a forma carinhosa e ternurenta com que ela falou da sua opcao de biberão vs amanentar, da maneira como o anjinho dela é importante. Ok, ja sei que todas as mamis pensam e sentem assim (ou quase todas) mas este post tocou-me :) que sejas mesmo muito feliz Pipoca com a tua familia. Um beijinho

De Anónimo a 04.08.2013 às 20:10

cada qual tem a sua experiência e a sua vontade...

eu não senti um momento de dor ao dar de mamar, e ninguém e tira os momentos mais felizes do mundo com a minha filha nos braços, a dar de mamar. Tudo estava perfeito, o mundo parava e estava tudo no lugar. Eu tinha tudo o que aquela menina precisava... e nesses momentos era invadida por uma onda de felicidade algo inexplicável!

e se ela era uma vampirinha do leite", desde o 1º momento abriu muito bem a boquinha para sugar e colocava sempre a sua mãozinha aberta no meu pescoço. Do melhor!!
saudadinhas . :-)

De Rita Baptista a 07.08.2013 às 16:18

Adoro caixas de pandora :D

Para já deixo os meus parabéns à tua atitude... Acredito como tu que uma mãe feliz faz um bebe feliz, por isso devemos fazer o que a nós nos parece ser melhor para os nossos filhos e NINGUÉM mais tem nada a ver com isso!

Quando na gravidez me perguntavam se ia amamentar e minha resposta sempre foi : Logo se vê! E nunca liguei a "bocas da reação" nem a opiniões que me queriam a toda a força que eu amamentasse.

A minha filha nasceu e com ela veio a pergunta da enfermeira: vamos por a mamar, respondi que sim... Descobri que tenho uma coisa que se chama mamilo plano, fantastico não?

Fui insistindo, mas sempre avisei o meu marido, que no momento em que deixasse de ser confortável para mim parava de amamentar... bem a miúda tem 8 meses e meio e ainda amamento, mas desengane-se que acha que sou fanática e defendo a amamentação à força... Não o faço! Acho que deve ser uma escolha de cada mãe tendo em conta o seu bem estar físico e psicológico, não concordo nada com quem tenta fazer com que a amamentação seja uma obrigação!

É uma escolha livre e assim deve permanecer!

De Sofia a 18.08.2013 às 22:40

Como recem-mama custa-me muito entender esta opção. Reli o que escreveu e não entendi o seu argumento, mas obviamente o filho é seu, e cada um dá aos seus filhos o melhor que pode!

De LL a 19.08.2013 às 13:54

Pois eu decidi não dar de mamar, como a ti a ideia não me seduzia nem um pouco.
Chegou a altura de o ter e apanho, no quarto, uma enfermeira pro amamentação. Não quis saber da minha opção e fez-me sentir mal por não querer "ao menos experimentar". Fiz-lhe a vontade. Mal o miúdo nasceu, colocaram-mo ao peito. Sugava, sugava e não saia quase nada. Comprei uma bomba e não saia quase nada. Era um regalo vê-lo a mamar o suplemento. Ao fim de 4 dias desisti e tomei os comprimidos. Estava a fazer-me mal a mim e a ele.

De Luísa a 20.08.2013 às 10:24

Não li os comentários anteriores. Só para dizer que fez o que achou mais correcto e ainda bem. Eu não fui amamentada e sempre fui saudável e a melhor aluna de todas as turmas por onde passei. Portanto nada a temer pelo futuro do seu Mateus.

Muitas Felicidades!

De P.Leo a 22.08.2013 às 17:46

Adorei este post, e eu nem sou uma seguidora assídua confesso!!! A pressão que é colocada ás mães para amamentar é uma coisa tremenda, que eu vivi na primeira pessoa. Para mim amamentar é um ato natural, mas acima de tudo, há sempre que considerar as diversas variáveis que a compõem. A minha filha não tinha uma boa pega, fui muitíssimo bem apoiada pelos profissionais de saúde, não me doía, tive de tirar com bomba o leite, para chegar à conclusão, que eu não produzia o leite suficiente. Que ia fazer, deixar a minha filha sem comer? Curiosamente tive uma enfermeira que na primeira semana, me mexeu no peito e disse: Ó mãe, a mãe não vai ter leite muito tempo...
E ai de quem venha afirmar que a vinculação foi menos eficaz, que a minha filha terá menos defesas (aos 28 meses teve doente uma vez), ou insinue que sou menos mãe por não ter amamentado. Eu efetivamente não pude, mas as mãe têm o direito de escolher o que querem para si e para os seus filhos, e o que é bom e verdadeiro para uns não será para outros. Parabéns pois efetivamente este é um tópico sensível.

De m1a a 19.09.2013 às 22:06

Cada um sabe de si, são prioridades, mas o que interessa é saber quanto vais gastar depois na saúde do puto por não ter mamado. Será que compensa?

Ás vezes os factos provados cientificamente e a verdade atrapalham ou não queremos aceitá-los porque não nos convém.

De Cristina a 03.12.2013 às 23:56

"Cada um sabe de si, são prioridades, mas o que interessa é saber quanto vais gastar depois na saúde do puto por não ter mamado. Será que compensa?"

- Somos 3 irmãos e todos bebemos tal como milhares de bebes no mundo desde o primeiro dia leite artificial, e nunca vi nenhum médico me dizer: Cristina você esta doente porque a sua mãe não lhe deu de mamar!!!!???

Oh Deus....

eu sou mãe e não dei de mamar a minha filha por opção também. Hoje têm 5 anos e sempre foi totalmente Saudável !!!!!

E não são prioridades, são opções! Certas ou erradas cabe a nós mães escolher...

Tal como a religião, pode não concordar, mas respeite!

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