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Então e o baby blues?

por A Pipoca Mais Doce, em 22.08.13

Todos os dias salto da cama mais feliz por saber que o Mateus existe. É mais ou menos como se fosse sempre Natal e tivesse um presente à espera para abrir. Sim, eu sei que isto é uma pirosada daqui até Vila Nova de Cerveira, mas é o que eu sinto. Mesmo depois de uma daquelas noites, vejo-o a dar aos bracinhos e às perninhas e pronto, lá me esqueço que mal dormi e que estou com um ar miserável. É o chamado milagre da maternidade, acho eu. Mas é tudo lindo? É tudo maravilhoso? É tudo para cima de espectacular? Pois, não, não é. Não voltava atrás, já não quero uma vida sem Mateus e ainda não tive nenhum momento em que me desse vontade de começar a preencher a papelada para adopção, mas também não é tudo tão perfeito e cutchi-cutchi como pintam. É normal que o pós-gravidez traga com ele o baby blues, uma fase em que a mãe fica particularmente sensível, melancólica, triste e apreensiva. Não é tão grave nem tão intenso como a depressão pós-parto, mas é uma fase chata e que precisa de alguma atenção, sob pena de poder descambar para algo pior. Diz que tem a ver com o descontrolo hormonal típico desta fase e é uma coisa bastante comum. Há mães que sabem disto e lidam bem com a coisa, há outras que não. Mas eu acho, sinceramente, que todas as mães sentem sempre qualquer coisinha, apesar de o tentarem esconder. É difícil dizer em voz alta que não é tudo óptimo. E que às vezes nos sentimos cansadas. E emocionalmente esgotadas. E que gostávamos de ter outro tipo de apoio. E que nos sentimos mal com o corpo que ainda não voltou ao sítio. E que é difícil viver com esta responsabilidade que nos caiu nos braços e que é para a vida. E com um amor tão grande e tão diferente de tudo que chega a ser assustador. E o medo de se fazer merda. E a impotência perante aquele choro que não sabemos se é de fome, se é de sono, se é de dor, se é de manha. E que andamos de lágrima fácil, sempre pronta a saltar. É difícil para as mães dizerem isto. Afinal, toda a gente nos vende esta fase como a melhor da nossa vida, e ai quem que ouse abrir a boca para dizer o contrário. Supostamente isto vai passando, tem uma duração limitada. E ainda bem, porque não é bom viver com as hormonas descompensadas. Tive o meu primeiro momento de baby blues ainda na maternidade. Não derramei uma lágrima na cesariana, nem mesmo quando ele nasceu. Estava tão apalermada com aquilo tudo que nem me deu para chorar. Na primeira noite, ainda sob o efeito da anestesia e encantada com aquela coisinha mínima, fiquei só ali a olhar para ele. Mas na segunda noite, já com instrução das enfermeiras para me ir desenrascando sozinha, tive uma espécie de epifania. Foi quando me caiu a ficha. Era mãe e tinha de tomar conta daquele miúdo para sempre. Aquele miúdo que estava ali a berrar e a quem eu não sabia dar de mamar ou trocar uma fralda. Chorei, chorei, chorei e chorei, numa espécie de "mas o que é que eu fui fazer à minha vida? Eu sou uma criança, como é que achei que era boa ideia ter um filho? E agora, como é que vou tomar conta dele? Como é que vou garantir que nada de mal lhe acontece, se eu mal sei tomar conta de mim?". Esta noção de responsabilidade e protecção é tramada. Ultrapassa-nos, é mais forte do que nós. Sabemos, instintivamente, que aquele pequeno ser é a coisa mais importante da nossa vida e que estaremos dispostas à andar à porrada com o mundo inteiro para o proteger. Que ninguém se meta à nossa frente. Mas é estranho e não deixa de ser um contra-senso, porque esta garra também vem acompanhada de algum medo. Não voltei a chorar depois dessa noite (quer dizer, voltei, quando alguém me disse uma coisa muito pouco simpática sobre a minha condição física e que as minhas hormonas não me permitiram encarar com leveza nem responder à altura), mas sinto-me, sem dúvida, mais melancólica, sensível e insegura. Logo eu, pequeno cubo de gelo andante. Continuo a ter aqueles momentos em que baixa em mim a consciência da maternidade , em que não sei se conseguirei dar conta do recado, em que percebo que a vida mudou e que a liberdade de outrora já era. Ganham-se outras coisas, sem dúvida muito melhores, mas caraças, uma pessoa precisa de tempo para se habituar à nova realidade. O apetite também anda pelas horas da morte. No fim da gravidez apetecia-me comer o mundo, agora sou capaz de estar um dia inteiro só com uns cereais no estômago. Parece que estou sempre a abarrotar.

 

O papel do pai também é importante nesta fase. Dá jeito termos alguém ao nosso lado que perceba a montanha-russa emocional em que estamos metidas, que nos vá dizendo umas coisas simpáticas e que nos tranquilize. Eu tenho um marido muito competente e muito prático, faz de tudo com o miúdo e trata cólicas como ninguém, mas depois tem ali um certo défice emocional muito típico do sexo masculino. Está sempre tudo bem, tudo se há-de arranjar, e às vezes dava jeito mais emoção que pragmatismo. Enfim, é o que temos. Por isso, recém-mamãs deste meu País, se quiserem desabafar as vossas angústias, sintam-se em casa. Mi caixa de comentários es tu caixa de comentários.

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publicado às 18:23


105 comentários

De Marta a 22.08.2013 às 19:40

Pipoca ainda não tenho filhos e já tenho esses momentos... Aquela impressão, sensação, ou o que for, de "eu quero muito um filho, mas e a responsabilidade de ter de cuidar dele a vida toda? E se alguma coisa acontece que me impede de não lhe dar tudo o que é necessário? E se não for boa mãe?...." Tenho tantos "se" que vou adiando de ano para ano a decisão, é que só o amor por eles não basta, o bem-estar dos país também é essencial.

De joana oliveira a 22.08.2013 às 19:52

Pois eu tive a depressão pós parto...não é ,de facto,fácil habituarmo-nos á nova condição de mãe e , mesmo com o apoio do conjuge ,por vezes sentimo-nos desamparadas,com medos,assustadas ao pensarmos que não vamos dar conta do recado...o conselho que dou é viverem o dia a dia,sem stresses que passam de nós para o bebé e levarem tudo com muita calma,tipo,um dia de cada vez!Não é fácil mas não há amor maior que o de mãe e esse vence tudo!Força Ana!e aproveita muito o Mateus , porque é mesmo verdade o que se diz sobre eles crescerem depressa demais :)

De susana a 22.08.2013 às 19:55

Olá!
Também fui mãe pela segunda vez muito recentemente. Tenho uma menina de 5 anos e outra de 2 meses. Também tenho momentos... o meu marido foi trabalhar para o estrangeiro a meio da minha gravidez. Estive doente, passei por tudo sozinha. Veio para o nascimento, mas no dia do parto estava na festa da escolinha da minha filha mais velha. Passei por um parto induzido, doloroso e em que a epidural foi administrada demasiado tarde. Digo que se este filho fosse o primeiro não tinha mais nenhum. Enfim, passado um mês do nascimento o meu marido voltou para o estrangeiro e sinto-me muito sozinha. Tem alturas em que faço tudo, tem outras em que não me queixo, porque acho sempre que ninguém entende. Uma vez queixei-me de cansaço e uma amiga disse que era este o meu trabalho, de que é que me queixava? Tenho apoio dos avós, mas não é a mesma coisa. É outro tipo de solidão. Se tive baby blues? Sim. Depressão acho que não, mas tenho alturas...

De Mel a 23.08.2013 às 00:01

:(

Não sei mas talvez devesse procurar alguma verdadeira amiga ou familiar e explicar-lhe isso. Imagino o que deva ser ter um bebé e uma filha ainda tão pequenina tudo às suas costas. Talvez alguém que a compreendesse verdadeiramente a pudesse ajudar e mesmo fazer companhia.

De Alexandra a 23.08.2013 às 10:27

Concordo com a Mel. Devia procurar alguém verdadeiramente amigo e aberto e disponível para ouvi-la sem julga-la. Ou então faça como diz a pipoca e desabafe na sua caixa de comentários! Vai perceber que não esta sozinha na forma como se sente.

Em relação ao post, ainda bem que há quem "chame os bois pelo nome" e mostre os dois lados da coisa. A mim da-me um jeitaço! Quero muito ser mãe mas prefiro, antes de o ser, saber toda a verdade, o bom e o mau, para poder estar um pouco mais preparada!

De Marta PL a 23.08.2013 às 11:52

lamento o que vou dizer, mas alguém que diz uma coisa dessas não é uma amiga.

De Anónimo a 23.08.2013 às 18:35

Grande amiga essa!!!
Aposto que essa amiga não tem filhos (eu também não os tenho) mas também não tem a mínima noção do que é cuidar de 2 crianças tão pequenas!

Se eu fosse sua amiga dizer-lhe-ia que é uma grande mulher!!!
E tentaria ajudar ao máximo!!!Porque apesar de não fazer a mínima ideia do que é cuidar de 2 crianças sem apoio do seu marido imagino o quão difícil deve ser!

De Mama de Peep toe a 24.08.2013 às 22:17

Muita força! Sozinha com duas crianças nos braços,sendo uma tão pequena não deve ser nada fácil!!E sim,também concordo que de amiga,essa sua amiga não tem nada....

De A Maçã de Eva a 22.08.2013 às 19:56

MEDO!

De Carolina Melo a 22.08.2013 às 19:59

Olá Pipoca, adorei este post, assim como tenho adorado tudo o resto, é muito bom haver quem 'grite' consciente da realidade de educar um bebé, é um dos meus maiores sonhos, e apesar de não ter tido esse presente concordo com tudo, é preciso ser realista nem tudo é um mar de rosas, simplesmente acaba por haver o lado compensador que é quando olhamos para eles e ficamos completamente embevecidas... Parabéns por estas reflexões certamente que ajudam muitas mães, dá para ver que mesmo com esta sua fase garantidamente que está a faser um bom trabalho! É sempre bom haver mentes conscientes para que se criem e eduquem mentes felizes..
Continuação de boas escritas e aprendizagens como mãe do Mateus.

Felicidades aos três.

Carolina Melo

De Marta a 22.08.2013 às 20:00

Tive o meu bebé em Junho e tb passei por isso. Aliás, pensei que ia evoluir para depressao pos-parto pois tenho tendencias depressivas. Ainda hoje me sinto na corda bamba mas mais forte emocionalmente. Sinto imensas saudades da minha vida antes de ter um filho, do fazer o que se quer qd se quer... Dos momentos a 2 com o maridao. Das noites bem dormidas... Se me sinto mais feliz agora? Nao. Gosto mt do meu filho e voltava a te-lo mas esta fase da vida é esgotante... Perdemos a nossa rotina, o nosso emprego, o controlo da nossa vida, a liberdade... E o pior de td sao mesmo as noites... A esperança é q eles crescem e td ha-de melhorar... E por me sentir assim, às vezes sinto me a pior mae do mundo. Serei a unica?

De Mi a 23.08.2013 às 10:08

Olá Marta!
Tinha mesmo que responder ao seu comentário porque não, não é a única. :) E acho que isso não faz de nós piores mães (vá, acho isso nos meus momentos de lucidez, porque há dias negros...).
Mas é normal, e acredito que todas as mulheres *sinceras* sintam isso mesmo, uma espécie de nostalgia pela vida anterior! Como não sentir? Eu sinto! Sinto falta das noites bem dormidas, de chegar a casa depois de um dia de trabalho e deitar-me no sofá, sem em preocupar com jantares e banhos ou birras, de ir a um restaurante sossegada (e isto fazemos ocasionalmente, mas nunca sem o sentimento de "culpa" por deixarmos de gozar aquelas duas horinhas com ela), das férias mais longas ou a sítios mais distantes, exóticos (que, por agora, ainda não dá e financeiramente não sei quando poderemos fazer de novo), sinto saudades de poder ir ao cinema à meia noite sem dar satisfações (agora isso implica sempre pedir aos avós para ficarem com ela). Sinto saudades de tão simplesmente me sentir completamente descontraída. No sentido de não panicar sempre à mínima coisa, entende? Acho que depois de sermos mães (e principalmente uma mãe a roçar um pouco o neurótico, como eu às vezes) nunca mais vivemos despreocupadas. Há sempre alguma coisa a invadir-nos a mente. Quando lemos um artigo sobre um bebé que lhe aconteceu x ou y, lá vão uns aninhos de vida do coração, e mesmo quando pensamos em coisas banais como na educação, alimentação, etc etc etc... Há sempre algum assunto pelo qual nos preocupar-nos! :) Por isso (e desculpe-me esta resposta gigante...) acho que não, não nos faz pior mães sentirmos saudades. Faz-nos mães honestas admitirmos isso.
E depois, só aquele abraço tãoooo bom já nos alegra a alma e devolve os anos de vida roubados à conta dos pequenos "paniques cardíacos"...
Um beijinho

De Célia a 23.08.2013 às 10:24

Não Marta, não é a única... e não é com toda a certeza a pior mãe do mundo.
:)

De Patricia a 17.06.2014 às 19:33

Olá a todas!
Não imaginam como me sinto aliviada depois de ler os vossos comentários! Fui mãe há pouco mais de um mês e pensamentos como os vossos passam-me muitas vezes pela cabeça e eu estava a sentir-me um lixo por pensar assim! Além de pensar que raio de mãe sou eu ao pensar isto??
Já vi que não estou sozinha e que não é assim tão anormal ter saudades da vida de antes mesmo que não trocasse esta vida por nada...
Eu acho que isto só pode ser do cansaço por estar 24h sobre 24h com ela, passar o dia a tentar adormece-la e não ter tempo nem para almoçar! :)

Bem, já valeu a pena ter vindo dar uma vista de olhos ao blog! Obrigada pipoca! Obrigada meninas!

De Anónimo a 22.08.2013 às 20:12

fui mae ha tres semanas e tenho dias em q me apetece chorar...sp fui uma pessoa q vivia rodeada de familia e amigos e hj vejo me desterrada no estrangeiro c uma filha nos bracos e nao...nao é facil...se choro?sim ja chorava antes de a ter...p ter q viver este momento tao magico longe daqueles que mais amo.mas sim tb sofro a custa deste turbilhao hormonal ao qual estamos sujeitas mas acredito k tal c td temos k ser fortes e acreditar q tal c um enjoo ou uma crise de azia...tb isto faz parte.ninguem disse k era facil...afinal de contas somos mulheres....dps do parto medonho q tive isto é canja.coragem

De Joana a 22.08.2013 às 20:13

Ola Pipoca, antes de mais parabens pelo bebezinho lindo que tens. Nao estas de todo sozinha na montanha russa hormonal, eu tive gemeas em abril e acho q continuo descompensada com muitos momentos de \"querer preencher a papelada para a adopcao\" lol. Sim nem td é cor de rosa mas supostamente tudo ha-de compensar :) felicidades para os tres.

De Tânia Tadeu a 22.08.2013 às 20:14

Eu fui mãe à 14 dias e revejo-me completamente neste texto. Os primeiros dias então, quase não sabia controlar o amor e preocupação que sentia perante o meu filho, parecia que não cabiam no peito!! neste momento já consigo dormir sem estar de 5 em 5 minutos a ver se ele está bem e controlo melhor a lágrima fácil que teima em aparecer por quase tudo e por nada. Como eu digo o meu coração ficou mais cheio mas tão mais apertadinho... :)

De Carla Remedios Encarnacao a 22.08.2013 às 20:16

Que delicia de texto. Tão natural o que tu sentes e demonstra que a maternidade é assim mesmo, um misto de alegrias imensas mas com muitas dúvidas. Eu revejo-me tanto nas tuas palavras e elogio o homem que tens a teu lado que é o apoio que precisas para esta nova etapa. Tudo se resolverá e o teu instinto é a melhor arma para te desenvencilhares-te.

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