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As novas rotinas
A partir do momento em que o bebé põe o pezinho dentro de casa a vida dá uma grande volta. Mentira, a vida dá uma grande volta a partir do momento em que se faz o teste de gravidez e aparecem dois tracinhos vermelhos, como que a dizer “upsssssss, agora é que são elas”. Mas pronto, é quando o novo membro da família vem para casa que se pode dizer, sem sombra de dúvida, que a vida mudou. De repente, somos mais. De repente, os nossos horários são os horários dele. De repente, é preciso estar sempre de olho no relógio para não deixar passar a hora do biberão (que é de três em três horas mas, na realidade, parece que é de cinco em cinco minutos). De repente, sair de casa implica levar a própria casa connosco. De repente, o espaço no carro fica mais pequeno. De repente, é preciso pensar onde se vai e quanto tempo se vai. De repente, saltam chuchas e fraldas de cada canto da casa. De repente, fala-se mais baixo e reduzem-se as luzes a partir de certa hora, para não acordar a fera. De repente, dormir duas horas e meia por noite já parece uma coisa espectacular. De repente, os jantares fora a dois transformaram-se em almoços fora a três. De repente... mudou tudo. E isso é mau? Não, é só diferente.
Sem dúvida que é uma mudança grande mas, ao mesmo tempo, parece que acontece tudo tão naturalmente como se sempre tivesse sido assim. É como se nunca tivéssemos conhecido a vida de outra forma. Bem, quer dizer, eu ainda tenho bastante presentes aqueles tempos em que dormia o que me apetecia. Ou em que decidia, naquele momento, que ia ao cinema. Coisas básicas mas que acredito que, a seu tempo, deixarão saudades. Acho legítimo que assim seja. Durante muito tempo levou-se um tipo de vida e não acho, mesmo, que um filho cubra tooooodas as necessidades que temos ou que nos faça esquecer todos os velhos hábitos. É bom, é muito bom tê-lo, mas também acho normal que se tenha saudades do que foi e não volta a ser. Ainda não estou muito nessa fase, estou mais na parte da paixão total, mas acredito que lá chegaremos. Para já, a nossa rotina gira em torno da fome dele, dos sonos dele, dos sítios onde o podemos ou não levar. Passamos a pensar mais noutra pessoa do que em nós mesmos e naquilo que realmente nos apeteceria fazer. Tentamos adaptar-nos aos novos horários, não enlouquecer com a privação de sono e aproveitar os tempos mortos. Que os há, não me venham dizer que com um bebé em casa é impossível fazer o que quer que seja. Por aqui temos visto muitos filmes, muitas séries, experimentam-se novas receitas e quando um precisa ou quer ir fazer qualquer coisa, o outro fica em casa e segura as pontas. Sem dúvida que sou uma privilegiada por o meu homem ter tirado a licença, é um apoio impagável. Também ajuda muito o facto de as noites serem divididas. Ora hoje estou eu de turno, ora amanhã estás tu, e assim vamos conseguindo ter, mais ou menos, os sonos em dia. Depois, no meio das obrigações, ainda sobra tempo (muiiiiito) para sessões de beijinhos, para 349 fotografias por dia e para adoração da criança. Fico muitas vezes assim, aparvalhada, só a olhar para ele. E, com isto, somos felizes.