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Amanhã o pai volta ao trabalho. Sai de manhã e só volta à noite, amanhã e todos os dias. Nos últimos cinco meses estivemos sempre juntos, os três. Cinco meses que nos pareciam tanto tempo, quando ainda estavas na barriga, mas que voaram assim que vieste cá para fora. Contigo o tempo passa mais rápido mas também é tão melhor. Agora o pai vai trabalhar. Deixou os cortinados por pendurar, não tratou daqueles quadros que lhe pedi. Afinal, cinco meses chegavam para tudo, não era preciso pressa. Amanhã ele volta para trás da secretária, tu vais para o infantário que a avó montou para ti lá em casa dela, e eu também vou tratar da minha vida, como se nada fosse e como se não me custasse. Mas custa. Amanhã seguimos todos as nossas vidas, porque diz que é assim mesmo que tem de ser. Mas o pai ainda não foi e eu já estou aqui de estômago embrulhado a contar os minutos para o ouvir meter a chave à porta. De manhã vou fazer-me de forte, vou fingir que não me custa nada vê-lo ir, vou fingir que não me custa nada ver-te ir porque, afinal, também eu precsiso de trabalhar. Mas depois penso em nós na cama, contigo ao meio sem saber para qual olhar. Penso na forma como te põe a dançar até te rires à gargalhada. Penso em como é espectacular a enfiar-te a papa na boca. Penso em como vê o Benfica contigo ao colo (e já quase te deixou surdo de tanto berrar). Penso em como finge ficar zangado contigo quando dás aos pés no banho e lanças pequenos tsunamis para todo o lado. Penso em como me ajudou tanto, tanto nestes primeiros meses (e sempre). Penso em como te adora , em como lhe vai custar perder a consulta dos cinco meses, em como lhe vai custar só te ver de manhã e à noite. Penso em como me vai custar só o ver de manhã e à noite. Temos sorte, bebé. Tu tens o melhor pai do mundo. Eu tenho o melhor marido do mundo. E é por isso que estou para aqui feita parva, a chorar como uma Madalena. Porque ele ainda não foi e eu já lhe sinto tanto a falta.