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Nestas coisas da educação dos filhos, o ideal é nunca haver o pai bom e o pai mau, aquele que se zanga e o que dá palmadinhas nas costas, o que o faz chorar quando o obriga a fazer qualquer coisa que ele não quer, e o que o ampara nessa situação. Isso, é o que diz a teoria. Na prática, nunca é bem assim.
Há anos que ouço a minha mulher dizer que eu sou o típico pai banana que deixa os filhos fazer tudo. Sempre rebati isso, e sempre lhe expliquei que a minha reacção deveria ser enquadrada com a idade da criança. De nada vale ter uma conversa séria com um miúdo de 2 anos sobre um assunto qualquer, porque o efeito prático é próximo de zero. Há, simplesmente, coisas que eles não entendem. O mesmo se passa com as chamadas "palmadas pedagógicas", que eu não defendo.
Acho que os pais devem sempre agir em conformidade com a gravidade das atitudes dos filhos, tendo sempre em conta a idade e maturidade deles.
O meu filho mais velho sempre foi um miúdo calmo. Nunca fez grandes birras - lembro-me de duas, em sete anos -, sempre foi ternurento e educado, por isso, nunca vi necessidade em ter uma atitude demasiado austera ou rígida para com ele. Claro que já fez disparates, como todos os putos, e asneiras graves, como afogar-me o Mac com um copo de água. Mas, mesmo quando o fez, foi um acidente, que aconteceu com ele, como podia ter acontecido comigo, que também entorno muitas vezes copos de água pela mesa de refeições. Lembro-me de quando isso aconteceu, ele percebeu imediatamente o drama - tinha quase 5 anos - e desatou a chorar, a agarrar-se a mim e a pedir desculpa. O que é que lhe ia fazer? Bater-lhe e colocá-lo de castigo? Achei que não. Vi aquilo como um acidente. Expliquei-lhe a gravidade do que havia feito, disse-lhe que teria de gastar muito dinheiro para arranjar o computador, e ele sempre a chorar. Acho que ele aprendeu a lição com aquela conversa. Bater-lhe ou castigá-lo de forma rígida seria, para mim, efeitos contrários, e deixá-lo-ia mais frustrado, triste, revoltado, e não por isso mais atento aos copos de água.
Quando o Mateus nasceu, combinei com a minha mulher que ele ficaria no nosso quarto até aos três meses. Quatro, na loucura. Claro que quando se começou a aproximar a data, ela tratou de arranjar desculpas e argumentos para adiar a coisa. Sempre a tentar puxar pelo meu conforto - "então agora vais ter de te levantar dez vez por noite e atravessar a casa toda para lhe ir pôr a chucha?", e coisas do género. Sempre lhe disse que não me importava, e que preferia isso, e habituá-lo já a esta nova realidade, quando ele ainda não sente a mudança. Claro que é importante os pais recuperarem o seu espaço, mas nem sequer acho isso o mais importante, o que é fundamental é que a transição do bebé para o quarto dele seja pacífica e o menos perturbadora possível para ele - e isso só é possível se ele tiver menos de oito ou nove meses. A mudança de ano - que até tinha sido sugerida pela minha mulher - pareceu-me o momento indicado.
Claro que isto só se deu porque eu tive de fazer o papel de mau da fita, e impor-me. Ontem, antes da mudança, já havia todo um rol de argumentos e novas datas para a passagem dele para o outro quarto, mas isto é mais ou menos como a decisão de se ter um filho - nunca há um momento certo, mas se não decidimos avançar, então, nunca nos parecerá o momento certo.
Como a minha mulher contou, o mais complicado foi adormecê-lo. Não sei se ele sentiu a mudança, ou se estava apenas numa daquelas noites em que chora porque tem sono, e quando mais sono tem mais berra. Eu acho que foi mais isso. Não o conseguimos acalmar, mas isso já aconteceu noutras noites, quando ele ainda estava no berço, por isso, acho que foi apenas coincidência.
A noite não foi assim tão tranquila como a minha mulher escreveu. Foi, para ela, que não esteve "de turno". Adormecer com a luz do visor acesa não foi fácil, e o som do quarto dele era activado a cada movimento mais brusco, por isso, ouvi várias vezes pequenos gemidos, a chucha a bater contra as grades, inícios de choro que depois não deram em nada, e às 4h40 tive mesmo de me levantar para ir ver se ele estava bem, porque estava a rabujar. Pus-lhe a chucha e adormeceu em três segundos (claro que a minha mulher não ouviu nada disto).
Ainda assim, estava preparado para isto, e para bem pior. É uma fase de mudança, de adaptação, um novo passo na vida do Mateus e na nossa, enquanto pais, por isso, temos de a ver assim mesmo, como algo de diferente, uma realidade que nos surge e com a qual temos de saber lidar.
Hoje, é ela a ficar de turno.
Vai uma apostinha em como a noite me vai parecer maravilhosa?