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Perguntas sem resposta

por A Pipoca Mais Doce, em 01.04.13

Quando andava a estudar e me perguntavam se estava preparada para os testes, eu conseguia saber mais ou menos a resposta. Sabia que dominava Português, História e Filosofia, sabia que não estava tão bem a Francês ou a Geografia, e por aí a fora. Sabia quanto tinha estudado, sabia aquilo que me interessava mais, por isso também conseguia fazer uma previsão de como é que as coisas iam correr. Mas agora perguntam-me "e então, estás preparada?", e eu digo que não sei. A verdade é essa. Não sei se estou preparada para isto de ser mãe. Não é por falta de leitura (que tenho lido), nem por falta de me informar (que me tenho informado), nem por falta de falar do assunto (que tenho falado). É mesmo porque por mais que leia, por mais que me informe e por mais que fale e oiça, nada me preparará realmente para o que aí vem. Não há nada comparável. Cada livro é um livro, cada caso é um caso, cada casa é uma casa e cada família é uma família.

 

Eu optei pela táctica de não pensar excessivamente, de não complicar excessivamente, de não estar a antecipar situações que só depois, na altura, quando estiver a passar por elas, as saberei resolver (ou, pelo menos, tentar). Não gosto que me venham com conversas do género "preparada para deixar de ter vida?", "preparada para nunca mais viajar?", "preparada para nunca mais conseguires pegar num livro?", "preparada para nunca mais ires ao cinema?". E, acreditem, é raro o dia em que não me brindam com qualquer coisa do género, quase com um prazer sádico. Não sabendo exactamente o que aí vem, sei que a vida vai mudar. É normal. De repente, há mais um elemento na família, alguém que depende exclusivamente de nós, da nossa atenção, do nosso cuidado, do nosso amor, do nosso tempo. E sei que o primeiro ano será particularmente duro. Mas, e como diz o senhor meu esposo nos textos abaixo, também acho, VER-DA-DEI-RA-MEN-TE, que a forma como passamos a levar a vida depende de nós.

 

Não vou ler 20 livros por ano? Ok, talvez, mas vou tentar (eu disse TENTAR) ler dois ou três. Não irei ao cinema todas as semanas? Tudo bem, irei uma vez a cada dois meses, ou passo a ver mais séries em casa. Não vou fazer três viagens por ano? Pois, é capaz, mas uma ninguém me tira, assim haja avós, tios ou amigos que não se importem de ficar com a criança. Se acho que vou deixar de ter vida? Não, não acho, não acho mesmo. Acho que vou ter uma vida diferente, pior numas coisas, infinitamente melhor noutras, seguramente com muitas e muitas cedências que, até aqui, nunca tive de fazer. Mas acho que essa é a desculpa que muita gente usa para si mesma, para justificar o facto de não ter grandes interesses na vida. Se calhar nunca gostaram particularmente de viajar, ou de cinema, ou de concertos, ou de ir jantar fora, por isso um filho é a desculpa perfeita. "Como é que eu posso ir viajar se tenho um filho?". "Como é que eu posso ir ao cinema se tenho um filho?". Etc etc. É a desculpa perfeita, a desculpa incontestável. Quem é que vai contra-argumentar?

 

Eu não sei se estou preparada para muito do que aí vem. Não sei como será ter alguém que depende de mim. Alguém que chora dias a fio, sabe Deus por que motivo. Alguém que me acordará 34 vezes por noite. Alguém que precisará de doze fraldas por dia. Alguém que me cuspirá sopa para a cara. Alguém que achará giro atirar papa ao papel de parede. Alguém que fará birras de meia-noite, com e sem razão. Alguém que me obrigará a sair de casa como se fosse para um acampamento, mesmo que seja só para ir ali ao pediatra. Alguém que me obrigará a ter os dias planeados. Alguém que me retirará a espontaneidade da vida, o "hoje vamos jantar ali" ou o "hoje comemos só cereais". Alguém que me obrigará a uma maior contenção nos gastos. Se pensar, se pensar muito, se pensar mesmo a sério, então esqueçam. Não quero, ainda  posso voltar atrás? É por isso que prefiro não me martirizar muito com isto. Não é inconsciência, não é o não querer saber, não é um "que-se-lixe". Mas uma coisa é pensar no abstracto, teorizar, imaginar. Outra é ter um puto fofinho já cá fora, com os pezinhos a dar a dar e a fazer barulhos parvos a que só as mães acham graça. E aí, nessa altura, quem é que vai querer saber da sopa cuspida na nossa cara?

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publicado às 16:35


73 comentários

De ... a 01.04.2013 às 20:53

O seu comentário não deixa de ser incoerente! Diz que detesta as pessoas que vêm um filho como uma prisao, porque isto e aquilo..depois diz que o seu bebe de 7 meses deu-lhe 2 noites más apenas (a minha com 15 meses ainda nem uma unica noite dormiu seguido); que come bem, que é bem disposto. Sabe que há bebes que durante ANOS nao dormem a noite toda, choram, acordam, gritam, nao toleram saídas, são um inferno para comer, atiram tudo, sujam-lhe a roupa a mandar chapadas na colher, e com 5-18 meses não é uma questao de educaçao. Ha bebes dificeis, e a culpa nao é necessariamente dos pais. nascem assim. Tenha um filho diferente, e depois venha reescrever o seu comentario. Não a condeno por ter um postura boa pela vida, e que bom é haver pais que sao brindados com bebes assim (dentro claro, das crianças saudaveis), condeno-a pelo facto de ter tido tanta sorte, generalizar. Normalmente pessoas assim tornam-se intolerantes a pessoas que têm filhos diferentes, acham que os bebes sao todos iguais e se os pais nao se estao a sair maravilhosamente como voces é culpa deles, é porque sao uns atados, uns stressados... Por ficarem doentes?? Sabe o que é ter bebes com otites de repetiçao?? Com pneumonias?? Com bronquiolites de repetiçao?? Ter de faltar TODAS as semanas de Outubro a Março porque o bebe esta doente e nao tem ninguem em quem deixar, e sujeitar-se a falhar no emprego?? O que ia fazer?? Sair à rua com o seu bebe aos gritos permanentemente que nem consegue apreciar nada, dar.lhe de comer na rua enquanto ele grita e esperneia, e lhe atira com a comida, e voce fica imunda, e cansada de ter dormido 2 horas apenas, e no fds imediatamente a seguir à 17º ida às urgencias em 3 meses, sabendo que sujeita o eu bebe a ter uma recaida?? As coisas nao sao assim tao lineares :) Mas espero que o seu filho assim continue, acredite que isto é mais de 50% o bebe em si, e nao os pais.

De Sonia duarte a 01.04.2013 às 22:53

Passei por uma situação parecida e cheguei a um ponto que pedi ajuda de um profissional. E foi com o meu segundo filho. É desesperante. Só começou a melhorar por volta dos 18 meses mas aos 2 as coisas estavam controladas. Força e boa sorte.

De dulce a 09.04.2013 às 15:49

Eu tb sei como é (e a minha tem hoje 2 anos e meio) não queremos dizer às pessoas que há 2 noites seguidas que a nossa filha dorme a noite seguida só para não azarar. Ainda ontem contei as horas todas do relógio, e quando não quer comer nada e demoramos meia hora só para lhe enfiar alguma comida no estômago. Abençoados pais que têm filhos que os deixam dormir...

De Maria a 02.04.2013 às 01:29

Nem mais! Ah tem uma coisa, só tem sete meses, as crianças estão constamtemente a mudar e lá porque dorme a noite toda agora não quer dizer que durma no mês a seguir e no outro e no outro. Ser mãe é estar constantemente a aprender e a se reinventar, certezas de uma recém mamã não duram para sempre. Ainda bem.

De ... a 02.04.2013 às 10:40

Acredite, eu não sou nada frustrada, se calhar fui rude e soou a isso. Não tenho qualquer ajuda, e tive uma bebe verdadeiramente infernal (mas mesmo), e mesmo assim fiz tudo, saí, passeei, levei-a comigo para todo o lado (até porque não tinha alternativa de ajuda)...tentei contrariar, tentei o tal habito que quem nao passa pelo mesmo fala, e que nem sempre resulta (eu desde que tive o bebe e passo por pessoas na rua com bebes nos ovinhos, acordados, a espernear, caladinhos, enquanto os pais comem..e sao a maioria, fico parva!! Parva como é possivel haver bebes assim, a minha nem 10 segundos...). Mas como prova de que na balança pesam mais a parte boa que a menos boa, e de que amo isto e do meu otimismo que sao fases que, um dia até terei saudades, já estou grávida novamente, planeado. O que me custa é quem vive alheado e teve as coisas facilitadas ache que os outros falham porque sim, e nao porque as condiçoes de jogo deles sao outras.
Tenho seguido isto aqui porque como tive um bebe fora de serie, um parto mau fora de serie, uma amamentaçao sofrivel fora de serie, e sem qualquer ajuda alem do marido nem naqueles dias em que nao conseguia caminhar depois do parto, aprendi muitas coisas..acima de tudo a ser tolerante e a aceitar que os bebes sao completamente diferentes, e que é um erro comparar situações. E vejo muita intolerancia pelo que leio, mas acima de tudo desconhecimento. E magooa-me que assim seja. Dá vontade de descer ao "cliché" e usar a frase enervante: "que bom para ti"!

De Anónimo a 02.04.2013 às 12:08

Bolas, fiquei solidária consigo e espero que o seu filho esteja numa fase melhor. Tenho 1 filho com 5 anos que é peace and love, a educadora já me disse que não vai sofrer de stress, sempre foi um bebé calmo, ia connosco para todo o lado e mesmo assim andei o 1º mês a bater mal com a novidade de ser mãe. Sei perfeitamente que há bebés mt dificeis e essas sim têm que ser super mães!

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