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Nunca tendo tido assim uma grande apetência pela maternidade, sempre tive, no entanto, alguma curiosidade em saber o que era o tal amor de que toda a gente falava. O amor inexplicável, o amor assolapado, o amor compensador, o amor diferente de todos os amores. Lembro-me de perguntar a alguns pais "mas é um amor parecido com o quê? Com o que se sente pelos pais? Pelos irmãos?". A resposta que recebia sempre é que não se conseguia definir. Era um amor diferente. Depois fui mãe e percebi. O amor que temos a um filho é uma coisa assim maior do que o mundo, uma coisa tão forte que faz doer. Não estava preparada para isso, para gostar tanto de alguém ao ponto de isso me dar dores. Físicas e na alma. Acho que tem a ver com a responsabilidade e o medo que a maternidade traz associados. Lembro-me de nos primeiros tempos pensar "e agora? Eu gosto tanto dele, e se lhe acontece alguma coisa de mal, e se não tomo bem conta dele?". É tramado. Mas falava do amor. Que é uma coisa tão boa e tão forte. Quando o Mateus está a dormir no meu colo apetece-me engoli-lo, de tanto que gosto dele. Uma espécie de "pronto, és só meu". Fico a olhar para ele, a tentar perceber como era a vida antes. A pensar que é tão melhor agora, a pensar que não sei viver sem ele, a pensar que me saiu a lotaria. Nunca tive aquela coisa de ser mãe, nunca fiz especial questão, mas o amor que se sente por um filho é uma coisa tão boa que é quase impossível não sair para a rua e começar a dizer a toda a gente que tem de ter filhos. Não o faço. Lembro-me que me chateava a conversa do "então e filhos?", e por isso tento não a reproduzir. Mas não deixo de ter um bocadinho de pena de quem não quer ter filhos. E de lamentar por quem quer e não pode ter. Não pena no sentido de achar que nunca se vão sentir realizados ou felizes sem filhos, nada disso. Nunca achei que uma pessoa tivesse de ter filhos para se realizar. Mas tenho pena que não conheçam este amor que não têm outra forma de conhecer. Há os amores todos que nos passam pela vida e que são tão bons. Pelos pais, pelos namorados, pelos bichos, pelos amigos, pelo trabalho, pelo clube. Mas depois há este, tão especial, tão arrebatador, tão de tirar o ar, que é tão bom e que mete tanto medo ao mesmo tempo. Só levo oito meses e pouco disto, mas pergunto-me quão mais pode crescer. É que quando parece que já não há mais espaço no coração descubro que, afinal, gosto mais um bocadinho dele. Se calhar já passou do coração, estendeu-se aos rins, aos pulmões, ao baço. Não sei. Só sei que este amor de 70 centímetros é a melhor coisa que alguma vez já conheci.