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É bom ir, mas é melhor voltar

por A Pipoca Mais Doce, em 17.03.14

Dizia-me uma amiga há pouco tempo que a melhor parte de se viajar quando temos filhos é que na hora de voltar... já não temos pena. Já não há aquela coisa do "ah, ficava aqui mais 15 dias", porque apesar de estarmos de férias, e de estarmos num sítio fantástico, e de nos estarmos a divertir e a conhecer coisas novas, a melhor parte de nós ficou. E contamos os minutinhos para voltar. Depois de uns dias em Cabo Verde e da ida à Disney, desta feita o Mateus ficou e lá fomos nós gozar o meu presente de aniversário: Praga+Bratislava+Viena+Budapeste. Quando o homem me ofereceu a viagem, a minha primeira pergunta foi "então e o Mateus???". Resposta dele: "o Mateus fica". Nunca o tinha deixado uma semana, o máximo foram quatro dias, e só a ideia não me deixou-me logo meio indisposta. Senti que era assim uma espécie de presente envenenado. Era uma viagem que queríamos fazer há muito tempo, mas, mas, mas... e o Mateus? =( Tentei não pensar muito no assunto, ainda faltavam mais de dois meses, não ia estar a martirizar-me com isso. Mas a data foi-se aproximando e eu a ficar com o coração cada vez mais encolhido. E quase ali a desejar, secretamente, que não pudéssemos ir por algum motivo, só para não ter de o deixar. Mas fomos. E foi giro. E tive muitas saudades. Mas diz que a vida é assim mesmo. Antes de ter filhos sempre quis ser esse tipo de mãe, que é capaz de arranjar tempo para tudo: tempo para os filhos, tempo para o marido, tempo para si, tempo para os amigos. Mas depois, já se sabe, as crianças chegam e a conversa é outra. E não nos conseguimos desligar, e vai ficando tudo para trás. Acho que tenho conseguido equilbrar as coisas. O Mateus e a família têm o seu tempo de qualidade, mas arranja-se também tempo para o resto. E isso é bom. Se lhe senti a falta? Sim, todos os dias. A melhor parte do dia era ligar de manhã e à noite para a minha mãe. Para saber como ele tinha dormido e para saber como tinha passado o dia. Só duas vezes, não mais, que vai-se a ver e ele também não faz assim tanta coisa quanto isso e não há muito para contar. Conseguia ouvi-lo a palrar e ficava feliz. Quando cheguei ao aeroporto, às nove da noite, fui logo a correr para casa dos meus pais, para ainda o conseguir apanhar acordado. Já estava a dormir, o sacana. Dei-lhe 389 beijinhos, destapei-o assim como quem não quer a coisa, mas nada, sempre a roncar. Mas não resisti a ficar a dormir lá nessa noite. Levei-o para a minha cama e fiquei a noite toda agarradinha a ele. De manhã, quando acordou, estava histérico por me ver. Batia com as mãos  e com os pés, dava gritos, toda uma loucura. Já nem queria saber da avó, que o aturou uma semana. "Pois, agora já nem se ri para mim, já tem a mãe não me liga nenhuma".  Avó dramática.

Gostei das férias. Mas gostei ainda mais de voltar. Vai ser sempre assim.

 

 

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publicado às 09:43


12 comentários

De ... a 17.03.2014 às 10:39

ahahah, adorei a da avó!

Pois, já sei que pareço uma velha queixosa...mas não consigo deixar de sentir a minha maternidade como uma prisão. Não tenho ninguém, ninguém que me fique com eles sequer para poder ir ao supermercado. E vai ser sempre assim, até serem crescidos. E morro de vontade e cansaço, queria poder ir nem que fosse ao cinema, ou jantar fora com o marido. Sermos esse tipo de mãe que descreves não depende de nós, não mesmo, depende das ajudas e apoio que temos. E ter estes escapes faz toda a diferença na maternidade, e continua a enervar-me quem critica as maes que "so falam do lado negativo", porque normalmente quem critica é quem tem a barriga cheia de alternativas para poder continuar a existir como pessoa e não apenas como mãe.

Ainda bem que tens essa ajuda e que tens esse espírito, acredita que és muito melhor mãe assim, que eu há dias que me sinto no limite. Claro, depois eles fazem.nos sentir mal do que ainda há 2 segundos pensámos, quando nos lembram o tão bom que é existirem, mas não me vou pôr com palavreados bonitos, há dias que me sinto muito em baixo... (já para não falar nos 1000 dias seguidos sem dormir uma noite ininterrupta). Poder ir jantar com o marido sem eles já seria um sonho, uma viagem mesmo de apenas 2 dias, pff..indiscritivel. E quando voltasse voltaria com energia e saudade, e descanso, voltando melhor mãe do que, derrotada, tenho sido.

De Anónimo a 17.03.2014 às 14:18

Eu infelizmente passo pelo mesmo, sem ninguém com quem deixar o meu filho...nem sequer para ir jantar fora!
É mt complicado e naturalmente ressente-se no nosso estado de espírito, na nossa relação com o companheiro,... não ter momentos só para nós...

De Susana a 17.03.2014 às 15:01

Não se sinta mal!

Eu sinto exactamente o mesmo. Às vezes sinto-me mesmo presa! A escolha de ter um filho foi minha e não me arrependo, mas quem não tem família por perto e vive a parentalidade 100% do tempo sofre essa angústia de pensar que lhe apetecia fugir por umas horas e sente-se mal por o pensar...

De Helena a 17.03.2014 às 20:21

Agora que os meus filho tem 16 e 12 anos cada vez mais sinto que os momentos as dois (marido e mulher) fazem muita falta...mas, continuam a nã existir...

De ... a 18.03.2014 às 09:29

Obrigada pelos feedbacks, é bom saber que há mais quem entenda este lado, de um grupo de pessoas que felizmente creio que não é a maioria. Dói por dois lados, o deixarmos de ter tempo e possibilidade de sermos nós enquanto adultos e casal e dói ler as pessoas que, rodeadas de hipóteses, falam como se quem deixou de ter tempo enquanto casal e quem não saí sem os filhos o fizesse por opção, e como se fosse um mérito dessas pessoas o continuarem a ter vida; dói ler quem critica as pessoas que deixaram de ter tempo para si, dizendo "eu continuo a ir jantar fora, eu continuo a ir de viagem e a deixa-los, eu continuo a ir aqui e ali" como se eu não fosse porque não quero. Até dói quando ouço críticas ao "tempo que ficam com os avós", porque "os estragam". Pior que ter uma "má" alternativa, é não ter alternativa sequer. E sim, claro que fui eu quem escolheu ter os filhos, mas se esperasse ter apoio, nunca os teria. Quando temos filhos temos de pensar em contar só connosco (isto todos proferem como politicamente correto), mas a verdade é que são muito poucos aqueles que partem para a decisão sem ter uma mão de conforto sobre si.

De barbara a 01.04.2014 às 04:47

Completamente de acordo. Eu também não tenho ajuda nem meios para a comprar, e realmente a maternidade assim é muito mais difícil porque não tens outros espaços. É um privilégio ter ajuda, não é um mérito.

De Anónimo a 17.03.2014 às 13:52

Tão verdade tudo o que escreveu... O meu filho já tem 6 anos e mesmo assim quando me separo dele não vejo a hora de voltar e é tão bom voltar para junto dele.

Helia

De Pronta e Vestida a 17.03.2014 às 21:27

Que texto tão giro :) Bom saber que quando se quer, consegue-se equilibrar as coisas.

www.prontaevestida.com

De Anónimo a 17.03.2014 às 21:37

É muito bom mesmo conseguir manter o equilibrio, não nos esquecermos de nós nem do casamento. Sempre fizemos as nossas escapadelas a dois, embora depois do segundo filho as tenhamos reduzido.... Deixar dois custa a dobrar..... Para além de ser trabalho a dobrar para quem fica com eles.... Mas lá vamos tirando um tempinho para nós.
Sónia

De MARCIA VASCONCELOS a 20.03.2014 às 10:56

Depois de ler este maravilhoso texto, associo-o a esta imagem https://www.facebook.com/itsthehappypage/photos/a.142156025981336.1073741828.142144982649107/226446330885638/?type=1&theater que neste caso seria 'his lovely scent'. <3

De barbara a 01.04.2014 às 04:40

Para ser esse tipo de mãe há que ter ajuda e dinheiro. Não é se se quer, é se se pode. Se eu tivesse com quem deixar o meu filho uma semana e dinheiro para viajar, também o faria. Infelizmente não tenho. Então torna-se mais difícil equilibrar tudo.

De Raquel a 09.04.2014 às 12:18

Olá...quem diria...tás numa mãe que nem eu imaginava!!!! :)

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