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Temos pena, Mateus, não te vais safar da sopa.

por A Pipoca Mais Doce, em 21.06.14

Há umas semanas andou por aí a circular uma entrevista dada pelo pediatra Carlos Gonzalez. Já tinha ouvido falar do senhor, meio mundo me recomendou que lesse o Bésame Mucho. Ainda bem que não li, tenho para mim que ia desistir à terceira página, quando começasse a ler as teorias fantásticas que ele tem sobre o mundo das crianças. Quem me chamou a atenção para a entrevista foi o meu homem. "Leste a entrevista deste pediatra? Ele diz que não devemos obrigar as crianças a comerem o que não gostam!". Pronto, não foi preciso dizer mais nada, percebi logo que não nos íamos entender. Mas fui ler a entrevista toda, só mesmo para confirmar que nisto de educar uma criança há teorias para todos os gostos, incluindo a teoria do "eles que façam o que quiserem, coitadinhos, são crianças". E claro que o meu homem se reviu numa data de coisas, porque se há pessoa que faz tudo para não ter de comprar uma briga com os filhos (mais com o mais velho, que o mais novo ainda não opina sobre nada), essa pessoa é o meu homem. Muito haveria para dizer sobre as teorias desenvolvidas pelo Gonzalez, mas podemos só focar-nos nas que versam sobre a alimentação. Ele acha que não devemos obrigar os miúdos a comer o que não gostam, nomeadamente fruta, sopa ou legumes. Vão ficar traumatizados e vão odiar essas coisas para sempre. Importante, importante é que eles comam isso ao longo da vida, e não apenas nos primeiros anos, por isso não vale a pena obrigá-los e fazer com que odeiem. Diz ele que podem não gostar agora, mas talvez gostem quando crescerem. Ah ah, boa piada. Isto faria tudo muito sentido se, pelo meio, o Carlos Gonzalez não se estivesse a esquecer de uma coisa chamada "discernimento". É claro que há coisas que eu como agora que não gostava em criança, mas não é porque de repente passei a gostar imenso. É porque sei que me fazem bem e que me fazem falta. Eu não acordei um dia a pensar que adorava brócolos e espinafres. Entre isso e um prato de batatas fritas, prefiro claramente a segunda opção. Mas, lá está, tenho discernimento suficiente para saber que os legumes são uma opção mais saudável. Discernimento esse que os miúdos não têm e, como tal, têm de ser obrigados. Por eles só comeriam hamburgers, lasanha, batatas fritas, gomas e Doritos. E, segundo o Carlos Gonzalez, não faz mal nenhum, porque um dia eles vão descobrir que adoram couves de Bruxelas. Mas e até lá? Até eles perceberem isso não estarão já com um défice alimentar qualquer? Se chegarem aos 20 anos sem nunca terem comido peixe ou legumes isso será bom para eles? Pessoalmente, não acredito nisso. E, pela parte que me toca, o Mateus vai ser obrigado a comer sopa, e fruta, e peixe e legumes. Temos pena, é a vida, venham de lá as birras que eu estou pronta. É o que eu acho que é melhor para ele, por isso é assim que vai ser. E, assim de repente, alguém acabou num psicólogo por os pais os terem obrigado a comer coisas que odiavam? Não me parece. Para mim, teorias deste género servem apenas para desresponsabilizar os pais e aliviar-lhes as culpas. Do género "ahhhh, não vou obrigar o meu Franciscinho a comer o creme de cenoura, o pediatra estrangeiro diz que não é preciso, depois aos 25 anos logo trata disso". A estrutura familiar existe para alguma coisa, isto não foi desenvolvido assim à balda. Os pais são pais, não são os melhores amigos. Compete-lhes fazer uma data de coisas chatas, compete-lhes ser os maus da fita uma data de vezes, mas educar é isso mesmo, não é dizer sempre que sim, não é deixar o poder e a vontade na mão de pequenos seres que têm tudo para virar monstrinhos manientos e manipuladores. Temos pena, Mateus, não te vais safar da sopa.

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publicado às 22:23


33 comentários

De Ana a 22.06.2014 às 23:04

Eu como mãe de uma criança de 5 anos afirmo que é um autêntico disparate entrar em guerra por causa das refeições.
E de facto não entendeu de todo as palavras do pediatra, mas eu faço umas pequenas citações para resumir a postura do pediatra

" A disciplina, por sua vez, é tida como uma “qualidade interna” e não a consequência de repreensões."

"Obrigar um bebé a comer muita verdura, fazer com que este a odeie e, de seguida, deixar de tentar é um desastre."

"É claro que é preciso impor limites aos mais novos. Todos os pais o fazem. O que digo é que os limites lógicos e razoáveis são impostos pelos pais sem que ninguém diga nada. Não deixamos os nossos filhos brincar com o fogo ou com facas. Rejeito os limites que não considero lógicos ou razoáveis, que não se colocam por necessidade ou para evitar quaisquer danos, mas que apenas servem para demonstrar “aqui sou eu que mando”."

"A disciplina é uma qualidade interna das pessoas. A disciplina não é gritar ou castigar."

"Mas se alguém propõe regras ridículas, como “não pegar a criança ao colo” ou “não consolá-la quando chora”, então digo para os pais ignorem essas regras, porque são estúpidas."


Talvez a Ana ainda não tenha a mínima noção, mas não é obrigando o seu filho a comer a sopa que ele vai começar a comer com vontade. Pode sempre fazer como algumas mães, enfiar a colher da sopa pela boca a dentro e pronto, sopa comida. O que é de facto uma boa escolha. Todas as mães têm certezas, que vai ser assim e acabou mas como já lhe deve ter acontecido, de certo que já foi obrigada a mudar e a voltar a repensar sobre as tais certezas que tinha.

Felizmente tive pais que nunca precisaram de bater nem de aplicar castigos para terem a nossa atenção, para nos ensinarem o bem ou o mau, ou para nos chamarem atenção. E sim, tenho pais que sempre assumiram uma postura de melhores amigos, que nunca precisaram de exercer a autoridade sobre os filhos só porque sim ou só porque podiam e felizmente sempre tivemos uma boa relação. Uma relação a base do diálogo e da confiança. É o que eu faço com a minha filha.
A estrutura familiar é uma escolha individual de cada família.




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